Encarada no todo, a alta de 2,94% no IGP-M de março assusta por ser a maior para o mês desde 1994, ou seja, antes do Plano Real, que domou a inflação de forma duradoura. O acumulado em 12 meses, 31,53%, é o maior desde maio de 2003, com a disparada cambial provocada pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.
No detalhe, preocupa mais ainda pela constatação de que alguns aumentos, como os de 25,87% no diesel e de 23,81% na gasolina, forçam repasses que chegarão aos bolsos do consumidor.
Como havia advertido o coordenador dos índices de preço da Fundação Getulio Vargas, André Braz, os aumentos no preço dos combustíveis espalham a inflação para vários segmentos. O principal motivo é o fato de que o diesel move a frota de caminhões que distribui produtos Brasil afora. Quando sobe o diesel, respinga quem quase toda a cadeia produtiva.
Mas se os índices de preços têm novos vilões, os que assombraram os brasileiros no ano passado ainda disputam protagonismo. O minério de ferro, que pressionou reajustes no aço, afetando indústria e construção civil, ainda encontra fôlego para subir 2,68%. Os adubos e fertilizantes, que vão desaguar em aumento de custo de toda a produção agrícola, tiveram um salto de 14,32% em março, também por culta da alta do petróleo, importante matéria-prima para esses produtos.
Além do petróleo, o outro combustível da inflação é o dólar. O que infla a cotação da moeda americana, por sua vez, é o risco político do Brasil. Ao elevar o juro básico, há duas semanas, o Banco Central (BC) procurava, também, frear a alta até agora indomável das verdinhas. Mas o BC, sozinho, não consegue conter a disparada se o governo Bolsonaro não contribuir com um mínimo de previsibilidade e sobriedade.
Com ao menos metade do país ainda tentando entender o que significa a reforma ministerial definida na segunda-feira (29), nada é previsível. Não por acaso, o dólar bateu em R$ 5,80 no meio dos anúncios desencontrados. E fechou em R$ 5,667, a maior desde maio de 2020. A coluna já ouviu vários empresários afirmando que não têm mais como evitar repasses, em parte, ou toda a variação de preços. E a alta do petróleo causada pelo encalhe de um navio gigante no Canal de Suez já cobra novo reajuste de 8% no preço da gasolina nas refinarias.
Quais são os principais índices de inflação
IGPs: Índices Gerais de Preços, calculados pela Fundação Getulio Vargas. Têm três variações, IGP-M, IGP-DI e IGP-10, com diferença apenas no período de apuração. Cada um é composto por três subíndices: Índice de Preços no Atacado (IPA), com peso de 60%, Índice de Preços ao Consumidor (IPC), com peso de 30%, e Índice Nacional do Custo da Construção (INCC), com peso de 10%.
IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado, calculado pelo IBGE, é considerado o índice oficial do Brasil porque serve de referência para o Banco Central. Mede a variação de preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e 40 salários mínimos.
INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor, também do IBGE, mede avariação nos preços de produtos e serviços consumidos por famílias com renda entre um e oito salários mínimos. É a referência para negociações de reajustes salariais.
IPCs: Índices de Preços ao Consumidor calculados pela FGV, tem quatro variações, entre as quais a mais conhecida é o IPC-S.