No início deste mês, uma empresa familiar gaúcha de 63 anos passou por sucessão de mulher para mulher. Na zona sul de Porto Alegre, a Termolar fabrica garrafas térmicas populares em Estados e países onde se toma mate e onde se consome muito café. Carolina Ardrizzo, 34 anos, foi para o conselho de administração e passou a presidência à irmã Natalie, 32. A nova presidente vai revisar todo o negócio e afirma que o comando não pesa: foi educada para ser forte e independente. E tem bom humor para brincar com o fato de ganhar marketing gratuito com as poses de famosos como Lionel Messi, Luis Suárez e Gisele Bündchen com suas garrafas térmicas (veja fotos abaixo).
Como foi essa sucessão?
Eu, Carolina e nosso irmão Carlo, de 29 anos, somos filhos de Jorge Ardrizzo, um dos fundadores. Ele era sócio de Leon Spalter, mas em 2012 ficou com toda a Termolar. Foi um movimento pensado desde o ano passado. Por escolha pessoal, Carolina quis ir para a parte mais estratégica e, como estou imersa no negócio, assumi de forma natural. Não foi uma escolha minha, foi nossa, decidimos por consenso, em família. Eu estava na diretoria administrativa e financeira, agora vamos ter uma executiva nessa função, que entrou como estagiária e galgou posições por se destacar como profissional determinada e com visão sistêmica.
Qual sua missão no comando?
Estamos fazendo uma profunda revisão de todas as questões que envolvem rentabilidade e perpetuidade, da estratégia à localização. Empregamos 600 pessoas, não demitimos. Em 2020, faturamos R$ 201 milhões, para este ano temos o desafio de crescer dois dígitos.
Não temos plano concreto de mudança, mas vamos reavaliar todo o modelo de negócio, com apoio de da consultoria Falconi.
Vocês podem se mudar?
Não temos plano concreto de mudança, mas vamos reavaliar todo o modelo de negócio, com apoio de da consultoria Falconi. Como somos muito fortes no Sul, que representa cerca de 30% das nossas vendas, não é nem prudente ir para longe. Precisamos recuperar a rentabilidade perdida em 2020, por aumento generalizado de preços e escassez de matéria-prima.
Foi um ano difícil?
Foi um ano lindo, comercialmente. Tivemos inclusive de negar pedidos de clientes, porque não conseguimos entregar por falta de matéria-prima. Poderíamos ter crescido muito mais sem esse problema e o aumento de custo. Tivemos bom crescimento, mas a um custo muito alto, então foi ruim de rentabilidade. Houve aumentos na casa de 50% de polímeros (matéria-prima do plástico). E não dá para repassar tudo.
A Termolar exporta?
Para Paraguai, Uruguai e Argentina. O Messi usa nossa térmica, costuma aparecer muito com o produto nas redes sociais. Outros jogadores também, como o Suárez, a Gisele Bündchen...
Fomos educadas, com muito orgulho, por um pai muito forte, que sempre nos ensinou que devemos lutar e ser independentes.
Vocês fazem esforço de marketing para isso?
Não, até deveria, mas seriam necessários alguns milhões (risos). A exportação é relevante, mas muito variável, também para México, Chile, Bolívia.
Ainda é um peso ser mulher no comando?
Nunca foi. Fomos educadas, com muito orgulho, por um pai muito forte, que sempre nos ensinou que devemos lutar e ser independentes. Ele sempre nos disse que podíamos tanto como qualquer homem, esse era o seu Jorge. Nossa trajetória mostra o quanto mulheres podem se apoiar, e juntas, chegar ao topo.
Fora da empresa, enfrentam alguma dificuldade?
Ninguém nasce pronto para cargo de gestão. Aprendemos a nos colocar onde devemos estar. Nem sempre foi fácil, mas é como tudo na vida. Com constância, vira hábito, fica leve.