Presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo e vice-presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, Marcelo Silva é um dos líderes nacionais do movimento Unidos pela Vacina, que tem a empresária Luiza Trajano como rosto mais conhecido. Nascido em Recife (PE), estava há 20 anos em São Paulo, mas em agosto voltou para ficar mais perto dos filhos e netos, de onde trabalha em home office. Brinca que em Pernambuco o bairrismo é tão forte quanto no Rio Grande do Sul, mas insiste que o movimento não tem "ismos": é aberto a todos. Só a vacina, sustenta, é capaz de quebrar o círculo vicioso das perdas provocadas pela pandemia. Sobre como a entidade empresarial vê as novas restrições, nem hesitou:
– A situação é tão séria que não há o que discutir.
Quando vocês pensaram na campanha, já previam o cenário atual?
Ainda não. Mas a gente sabia que a primeira onda ainda não havia terminado. Houve um decréscimo nos últimos meses de 2020. Já havia indícios de que a covid-19 continuaria em janeiro, como reflexo da liberação das pessoas no final do ano. E não foi só o problema do final do ano, de Natal, Ano Novo. Houve um novo pico, na segunda quinzena de janeiro. Aí começou a crescer. Fevereiro terminou no pico, que vai ser superado, a não ser que consigamos acelerar a vacina. As previsões para março e abril não são nada positivas.
Vamos atuar onde for possível, entendendo os gargalos de logística, armazenamento, distribuição.
Até abril?
Na medida em que a população vai se vacinando, como na Europa e nos Estados Unidos, começa a haver decréscimo. Isso fez com que nós nos convencêssemos de que a única alternativa é a vacinação. A Luiza Helena lançou a ideia de criar um grupo, ao qual se uniram o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IBV), do qual sou presidente e é composto por 72 grandes empresas do país, e o Mulheres do Brasil, que tem 75 mil integrantes. Estamos levantando os gargalos em nível municipal e estadual. Já temos retorno de mais de mil dos 5,5 mil municípios. Detectamos, por exemplo, falta de seringas e geladeiras apropriadas. Também é preciso fazer um esforço de convencimento da população de que a vacina não coloca um chip no corpo, por exemplo. Nas comunidades, existe muito folclore, muito mito. Precisamos deixar claro que não tem nada disso. A única alternativa é vacina. Os números dessa última semana mostram isso. Precisamos acelerar a vacinação da maioria da população brasileira.
Na semana passada, o Senado aprovou medida que permite a compra de vacinas por empresas privadas. Há interesse em fazer isso?
Não temos qualquer interesse comercial, não vamos pedir contrapartida. Vamos fazer uma ponte virtual, como os tempos requerem, entre empresas que querem doar e municípios. A legislação prevê compra por empresa privadas desde que as doses sejam doadas ao SUS, ou depois que for atingido percentual acima de 70% da população vacinável. Outras iniciativas não estão no nosso escopo.
A única forma de romper esse ciclo vicioso e transformá-lo em virtuoso é vacinando a maioria da população brasileira.
Então, o foco é totalmente no SUS?
Vamos trabalhar com o Ministério da Saúde para avaliar alternativas de aquisição. Se for necessário, podemos ajudar no contato com fornecedores. Vamos atuar onde for possível, entendendo os gargalos de logística, armazenamento, distribuição. Empresas aéreas, como Azul e Gol, estão prontas a colaborar para distribuição de vacinas. Estamos ouvindo todos os dias que os profissionais de saúde estão no limite. A economia só vai normalizar seu quando a maioria da população estiver vacinada. Se não, tem de fechar, fazer lockdown ou restringir a abertura de lojas, Aí, o comércio vende menos, emprega menos, a indústria fabrica menos, o consumo cai, as pessoas se concentram nos itens essenciais. Até a arrecadação de impostos diminui. A única forma de romper esse ciclo vicioso e transformá-lo em virtuoso é vacinando a maioria da população brasileira.
Como a iniciativa tem sido recebida?
Não vou dizer que seja uma unanimidade, mas na grande maioria dos Estados e municípios que temos abordado há grande receptividade. Porque é uma coisa tão óbvia, é um bem para toda a população, para todo o país. Simplesmente não me passa pela cabeça quem seria contrário a acelerar o processo. Não temos encontrado problema em nível federal, estadual e municipal. O movimento não é político nem partidário, não afeta políticos de nenhum matiz. Não é comercial, não quer vantagem de qualquer espécie. Estamos tratando de assuntos humanitários. Agora, quem pensar diferente, é livre.
Quando houver quantidade maior, pode faltar geladeira e outras coisas básicas.
Quando surgirão os primeiros resultados?
Assim que chegar vacina suficiente, não temos dúvida de que vão aparecer resultados do plano que estamos fazendo. Vai ajudar muito a acelerar a velocidade de imunização. Para vacinar, não basta a dose chegar e aplicar. É preciso armazenar, distribuir, disponibilizar. Hoje, chega e vacina. Quando houver quantidade maior, pode faltar geladeira e outras coisas básicas. A capacidade de produção desse tipo de geladeira, aprovada pela Anvisa, é limitada. Já estamos vendo lá fora, como podemos ajudar a trazer.
Como o IDV vê as novas restrições às atividades?
Na primeira onda, trabalhamos muito com Estados para fazer um guia de boas práticas, que oferecemos para todo o varejo. Seguimos à risca as determinações legais. As empresas são formais, por consequência seguem legislações e regulações. Na hora da restrição, o IDV segue rigorosamente. A situação é tão séria que não há o que discutir, só a vacina quebra o círculo vicioso. É evidente, tivemos mais de 1,5 mil mortes em um dia. Vamos aguardar que, com as medidas de restrição, consequentemente da diminuição de circulação de pessoas, haja uma redução de casos, e aí os Estados vão flexibilizar, na medida do possível. O IDV está com Estados e municípios para ajudar a conter a disseminação da covid-19. Só é bom para o varejo se for bom para o Brasil, essa é a premissa do IDV. Se abre as portas e prejudica a população, não interessa, é dar tiro no pé. Imagina se abro loja e o cliente adoece, pode até morrer, como já ocorreu com 250 mil brasileiros.
As 10 primeiras prioridades são vacinar, vacinar, vacinar...
Qualquer pessoa pode participar do Unidos pela Vacina?
Sim, é absolutamente suprapartidário e humanitário, trabalha no interesse de toda a população brasileira. Estamos absolutamente abertos a todos que quiserem se engajar. A vacina é a prioridade de um a 10, quer dizer, as 10 primeiras prioridades são vacinar, vacinar, vacinar...