A pressão da pandemia sobre a rede hospitalar de Porto Alegre se intensificou ainda mais durante o final de semana.
Neste domingo (28), a lotação das unidades de terapia intensiva (UTIs) voltou a superar os 100%, enquanto o número de doentes internados com covid-19 chegou a 467 e bateu o recorde da pandemia pelo sétimo dia consecutivo. Como resultado do esgotamento da rede de saúde, a fila de espera por um leito também se manteve em elevação: 142 pessoas com o vírus em emergências às 15h30min — sete a mais do que no sábado (27).
Nesse horário, quando todos os hospitais já haviam inserido informações do dia no painel de monitoramento da Secretaria Municipal de Saúde (embora novas atualizações fossem possíveis), a Capital registrava 100,12% de ocupação nas UTIs. A marca se manteve praticamente estável em relação à véspera, quando bateu em 101,08%.
A situação só não ficou pior porque a quantidade de leitos operacionais avançou de 861 para 877. Mas, como havia 11 vagas bloqueadas (o que é normal por razões como limpeza ou desinfecção), sobravam 866 camas para 867 doentes. Nesses casos, o percentual supera 100% porque são utilizados espaços emergenciais ou de retaguarda para não deixar os pacientes desamparados.
O Hospital Moinhos de Vento, por exemplo, se mantinha operando com 115% da capacidade devido à utilização de leitos emergenciais equivalentes aos de UTI. Ao todo, 10 dos 17 hospitais listados no painel de monitoramento apresentavam lotação máxima ou além do teto previsto.
No começo do ano passado, a SMS estipulou um limite de 383 vagas em UTI destinadas a pandemia como parâmetro para o esgotamento do sistema hospitalar da cidade. No domingo, a rede de atendimento socorria 609 pessoas com covid que já se encontravam no setor de terapia intensiva ou estavam na fila — 59% além do pior cenário projetado em 2020.
Estamos oferecendo um cuidado aquém, apesar de todos os esforços, mas não vejo isso como colapso. É um momento muito delicado.
ANA DAL BEM
Secretária-adjunta de Saúde
Em apenas uma semana, a quantidade de doentes graves com coronavírus disparou 37%. Apesar disso, a secretária-adjunta da Saúde, Ana dal Bem, avaliou no sábado que o cenário ainda não configurava um colapso:
— Na prática, quando você tem pacientes graves esperando leitos de UTI, a verdade é que a capacidade já esgotou. Estamos oferecendo um cuidado aquém, apesar de todos os esforços, mas não vejo isso como colapso. É um momento muito delicado. A gente ainda consegue receber pacientes no pronto-atendimento e na emergência, porém, para a UTI não tem mais vagas.
O infectologista do Hospital Conceição André Luiz Machado da Silva, porém, afirma que o município já atingiu o “último degrau” da capacidade de atendimento e classifica a situação como desesperadora.
Não estamos mais conseguindo dar conta do volume de pacientes. A situação é desesperadora
ANDRÉ LUIZ MACHADO
Infectologista do Conceição
— Mesmo que o governo venha disponibilizando mais leitos de UTI, não temos aumento na mesma proporção de médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, pessoal de limpeza. Não estamos mais conseguindo dar conta do volume de pacientes. A situação é desesperadora — garante o infectologista.
Além do Moinhos, estavam esgotados os hospitais São Lucas, Mãe de Deus, Clínicas, Ernesto Dornelles, Divina Providência, Cristo Redentor, Vila Nova, Fêmina, Restinga e Santa Ana.
Pacientes com coronavírus em UTIs da Capital
21/2 — 340
22/2 — 356
23/2 — 382
24/2 — 398
25/2 — 402
26/2 — 430
27/2 — 442
28/2 — 467
Variação em uma semana: 37%
Lotação geral no domingo: 100,12%