Em mais um reflexo da escalada da pandemia de coronavírus no Rio Grande do Sul, as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de hospitais de Porto Alegre atingiram, na tarde deste sábado (27), superlotação de 101,08%, segundo dados do painel de monitoramento mantido pela Secretaria Municipal da Saúde.
Esta é a primeira vez que a ocupação de UTIs na Capital ultrapassa o índice de 100% desde o início da epidemia, em março do ano passado.
Dos 17 estabelecimentos monitorados, sete atingiram ou ultrapassaram o percentual até as 16h30min — os números são modificados à medida que as instituições atualizam as informações no sistema.
Desde cedo, o Hospital Moinhos de Vento contabilizava 115,15% de ocupação, o maior índice entre os estabelecimentos listados. Já o Complexo Hospitalar Santa Casa, com dados atualizados às 15h37min, chegou a 104,72% de lotação, com a segunda maior taxa.
Na última sexta-feira (26), a porcentagem geral era de 98%. Havia 430 doentes graves com covid-19 em Porto Alegre, contra 408 no dia anterior, quinta-feira (25). Neste sábado, às 16h30min, os hospitais registravam 451 pessoas nessa condição, o equivalente a 68 internações a mais do que o teto de 383 vagas estipulado pela prefeitura da Capital no início do ano para que não houvesse colapso da estrutura de atendimento.
Aumentou, também, o número de enfermos aguardando vaga para tratamento intensivo. Na tarde de sexta, havia 124 pessoas na fila. Na tarde deste sábado, eram 136.
Conforme a secretária-adjunta da Saúde em Porto Alegre, Ana dal Ben, a capacidade do sistema está esgotada, embora, na avaliação dela, não se possa falar em colapso, já que o sistema segue funcionando.
— Na prática, quando você tem pacientes graves esperando leitos de UTI, a verdade é que a capacidade já esgotou. Estamos oferecendo um cuidado aquém, apesar de todos os esforços, mas não vejo isso como colapso. É um momento muito delicado. A gente ainda consegue receber pacientes no pronto-atendimento e na emergência, porém, para a UTI não tem mais vagas.
Ana destaca que a prefeitura vem fazendo o possível para ampliar o número de leitos disponíveis à população, mas, sem a ajuda da comunidade, isso não será suficiente. Ela faz um apelo por cooperação.
— O que a gente precisa é fazer com que as pessoas se cuidem, especialmente os mais jovens, porque está mudando o perfil do paciente grave. Nos primeiros 25 dias de janeiro, pessoas de 18 a 40 anos representavam 8,5% dos pedidos de internação em UTIs. Nos primeiros 25 dias de fevereiro, esse índice saltou para 14,7%, praticamente dobrou. Até então, muita gente mais nova achava que não haveria problema se contraísse a doença, mas as pessoas têm de saber que não é assim. É importante evitar aglomerações, respeitar os protocolos, lavar as mãos, usar a máscara. Temos feito esforços para abrir novos leitos, estamos trabalhando com uma dedicação muito grande, só que cada um tem de fazer a sua parte e tem de cooperar. Sem cooperação, não vamos sair dessa — alerta Ana.