Dois dos empresários mais ricos do Brasil manifestaram exasperação com a situação do país neste início de 2021.
Mais do que donos de grandes fortunas, são duas lendas do empreendedorismo nacional: Jorge Paulo Lemann, que fundou o Garantia e virou dono do maior grupo de bebidas do mundo, o Inbev, e Luiza Trajano, que transformou o Magazine Luiza no maior marketplace (plataforma que concentra vendas pela internet) nacional.
No domingo, em teleconferência com pares, Jorge Paulo Lemann, número 1 na lista dos bilionários brasileiros, disse ao ex-presidente Michel Temer, que participava da conversa:
– Saudades do seu governo. As coisas realmente funcionavam naquela época.
Conforme relatos, disse ver que o país tem muitas oportunidades mas não está em boa fase:
– Tudo o que você olha dá para melhorar, fazer melhor. E tem muita liquidez no mundo. As economias estão andando mal, mas a bolsa não para de subir. O pessoal não sabe onde investir, mas o Brasil não tem performado bem. É só consertar um pouquinho, ser mais ortodoxo, tratar bem os estrangeiros que tem muito, muito dinheiro.
"Tratar bem os estrangeiros" está longe das prioridades de Bolsonaro, que mantém no Ministério das Relações Exteriores um criador de incidentes diplomáticos e avaliado no Congresso como o pior do atual governo, a despeito dos riscos que isso representa. Lemann ainda expressou ceticismo sobre a possibilidade de aprovação de reformas até as eleições de 2022:
– Temos um Congresso que não se sabe direito para que lado vai. Acho difícil fazer as coisas que precisam ser feitas.
Na tarde desta terça-feira (9), Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza e segunda mulher mais rica do país, vai detalhar o plano do movimento Unidos pela Vacina, que lidera com um grupo de empresários para imunizar todos os brasileiros até setembro. A coluna vai acompanhar. No Instagram, onde despertou o interesse pelo assunto, a empresária afirmou:
– A gente não discute política, não procura culpado. A gente discute, sim, como levar a vacina até todas as pessoas do nosso país.
O objetivo é facilitar a aquisição e produção de insumos, como seringas e agulhas, e ajudar na fabricação dos imunizantes, com apoio de logística e na solução de problemas da Fiocruz e do Instituto Butantan, os dois que têm planos de produzir vacinas no Brasil.
Na segunda-feira (8), mesmo dia em que Luiza fez o "teaser" do Unidos pela Vacina (em publicidade, recurso usado para provocar a curiosidade sobre um lançamento), o presidente Jair Bolsonaro deu um giro no discurso:
– Nunca fui contra a vacina, sempre disse 'passou pela Anvisa, compra'. Tanto é que a Coronavac passou pela tangente. Estamos preocupados com a vida. Se vacinar, a chance de voltarmos à normalidade na economia aumenta exponencialmente. Queremos isso aí.
Se o presidente de fato mudou de opinião e foi convencido de que a imunização é a melhor resposta para conciliar saúde e economia, ou se está apenas fazendo um discurso para não perder o apoio crucial do poder econômico é uma dúvida razoável que só será eliminada com medidas concretas do Planalto.