Mesmo quando não tem Carnaval, o ano só começa depois da Quarta-Feira de Cinzas no Brasil, basta ver a definição sobre o auxílio emergencial que, mesmo urgente, só será encaminhada quando a data festiva for riscada do calendário.
Por isso, e também porque muitas listas começaram a ser compartilhadas nas redes sociais pouco antes da parada sem bloco e sem avenida, a coluna recupera 10 tendências para 2021 publicadas na edição especial de Ano Novo da revista britânica The Economist.
1. Batalha da vacina: na medida em que houver suficientes de doses disponíveis, o foco mudará do heroico esforço para desenvolvê-las para o igualmente desafiador esforço para distribuí-las. A diplomacia da vacina terá batalhas dentro e entre países sobre quem deve recebê-la com prioridade e em que prazo. Ainda há dúvida sobre quantas pessoas vão recusar a imunização.
2. Ritmo irregular da recuperação: será desequilibrado, com o início da retomada ainda marcado por surtos locais e as consequentes medidas de restrição. Os governos devem reavaliar e retomar planos de apoio às empresas e à manutenção de emprego, e o abismo entre empresa fortes e fragilizadas pela pandemia deve aumentar.
3. Remendos na desordem mundial: qual a capacidade de Joe Biden, que assumiu há menos de um mês, de recuperar as regras quebradas da velha ordem internacional? O Acordo de Paris sobre mudanças climáticas e o acordo nuclear com o Irã devem ser os primeiros passos, mas o desmonte é anterior a Donald Trump e deve se estender para além do fim de seu mandato.
4. Mais tensões entre EUA e China: não se deve esperar que Biden encerre a guerra comercial com a China. Mas ele deve tentar refazer relações com aliados para ter mais poder nesse embate. Vários países, da África ao Sudeste Asiático, estão se esforçando para evitar escolher lados à medida que a tensão cresce.
5. Empresas na linha de frente: o conflito EUA-China vai afetar as companhias, e não só as já visadas, como Huawei e TikTok, na medida em que o campo de batalha geopolítico envolver cada vez mais os negócios. Além das pressões "de cima" (dos acionistas), os executivos vão enfrentar a crescente pressão "de baixo", com funcionários e clientes exigindo posições sobre temas como mudança climática e justiça social, já que os políticos fizeram muito pouco.
6. Depois da "tech-celeração": em 2020, a pandemia acelerou a adoção de muitos comportamentos tecnológicos, de videoconferências e compras online ao trabalho remoto e ensino à distância. Neste ano, ficará mais claro quais dessas mudanças vão permanecer e quais serão abandonadas.
7. Um mundo menos móvel: o turismo vai encolher e mudar de forma, ainda com ênfase em viagens domésticas. Companhias aéreas, redes de hotéis e fabricantes de aviões enfrentarão dificuldades, assim como universidades que dependem muito de estudantes estrangeiros. O intercâmbio cultural também sofrerá.
8. Oportunidade para frear a mudança climática: uma perspectiva de esperança em meio à crise é uma chance para preservar o ambiente, com investimentos de governos em planos "verdes" de recuperação para criar empregos e reduzir emissões. A Conferência do Clima da ONU, adiada em 2020, terá de responder quão ambiciosas serão as promessas de cada país.
9. O ano do déjà vu: este ano poderá ser, em vários aspectos, uma repetição de 2020, como dúvida sobre a possibilidade de realmente retomar eventos suspensos no ano passado, como a Olimpíada. Nem todos vão conseguir.
10. Um alerta para outros riscos: acadêmicos e analistas, muitos dos quais avisaram sobre a ameaça de uma pandemia como a da covid-19 anos atrás tentarão aproveitar a estreita janela de atenção para que os políticos levem a sério outros riscos negligenciados, como a resistência a antibióticos e o terrorismo nuclear.