Se estar autorizada em seu país de origem é uma das credenciais para uma vacina ganhar velocidade no mundo, o Brasil ganhou uma nova arma para combater o coronavírus: a Covaxin, da Bharat Biotech, desenvolvida com o Conselho Indiano de Pesquisa Médica e o Instituto Nacional de Virologia da Índia.
A mais desconhecida das previstas na chamada "lista de adesão a vacinas" do Ministério da Saúde andava meio esquecida, até internacionalmente, mas nos últimos dias avançou tão rapidamente que já iniciou uma corrida.
No último final de semana, o órgão regulador da Índia autorizou o uso emergencial da Covaxin, ainda antes da conclusão da terceira fase de testes, no mesmo dia em que aprovou a fórmula da parceria Oxford/AstraZeneca.
A vacina desenvolvida na Índia é adaptada às condições que o país compartilha com o Brasil: grande população, logística simplificada – transporte e manutenção entre 2ºC e 8ºC – e custo estimado ao redor de US$ 1,50 (cerca de R$ 7,80), metade do preço da vacina de origem britânica, famosa pelo baixo valor. Tem base em vírus inativado e exige dose dupla, como todas as demais já aprovadas. Se sobre a fórmula Oxford/AstraZeneca se diz que "custa menos que um capuccino", a Covaxin é tida como "mais barata que água mineral".
E nem pense 'ah, mas é da Índia'. Primeiro, as 2 milhões de doses da parceira Oxford/AstraZeneca com importação autorizada para o Brasil pela Anvisa virão... da Índia. O país asiático se tornou há décadas um confiável fornecedor de medicamentos, resultado de um programa de incentivo iniciado ainda nos anos 1960.
As exportações de produtos farmacêuticos cresceram ao redor de 20% ao ano nas duas última décadas e devem somar US$ 20 bilhões em 2020, com 32,9% absorvidos pelos Estados Unidos. Que, aliás, é um dos 10 países, além do Brasil, com interesse na Covaxin. O Bharat Biotech assinou carta de intenções com a americana Ocugen para desenvolvimento conjunto da Covaxin para o mercado local.
A expectativa sobre a Covaxin no Brasil já fez com que um grupo de representantes de clínicas particulares de vacinação embarcasse nesta segunda-feira (4) para a Índia com a intenção de comprar 5 milhões de doses, conforme informou o presidente da Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVac), Geraldo Barbosa.
Na Índia, houve polêmica sobre a aprovação rápida da Covaxin. A organização de vigilância em saúde All India Drug Action Network apontou "grande preocupação" sobre a ausência de dados de eficácia da fórmula e avaliou que a falta de transparência levanta "mais perguntas do que respostas". É um problema, mas é bom lembrar que a vacinação com a fórmula Oxford/AstraZeneca começou nesta segunda-feira (4) no Reino Unido, sem anúncio de novos dados de eficácia além dos que causaram confusão em novembro passado.
As outras vacinas da "lista de adesão" brasileiras são bem conhecidas: Coronavac (Sinovac/Butantan), Oxford/AstraZeneca, Pfizer/BioNTech, Moderna, Janssen (Johnson & Johnson), além das que integrarem o consórcio da Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). São todas oportunidades a explorar para tirar o Brasil do atraso na vacina.