Já são cerca de 40 países com vacinação contra a covid-19 iniciada. Agora, não são apenas nações ricas e desenvolvidas, como Reino Unido, Estados Unidos e as 27 da União Europeia. Na América Latina, México (com governo "de esquerda"), Chile (com governo "de direita") e Costa Rica já começaram a imunizar sua população.
A maior rival do Brasil na região – e não apenas no futebol –, a Argentina, deu a largada nesta terça-feira (29), embora com plano quase temerário, porque a vacina russa Sputnik V, que começou a ser aplicada em Buenos Aires e na cidade vizinha La Plata, ainda não foi aprovada por nenhum órgão de vigilância sanitária. É evidente que o Brasil ficou para trás.
Na segunda-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro deu mais uma declaração fora de tom sobre as vacinas:
– O Brasil tem 210 milhões de habitantes, então, um mercado consumidor de qualquer coisa enorme (sic). Os laboratórios não tinham que estar interessados em vender para gente? Por que que eles, então, não apresentam a documentação na Anvisa? Pessoal diz que eu tenho que ir atrás. Não, não. Se sou vendedor, quero apresentar.
Bolsonaro "esqueceu" outra poderosa lei de mercado, a da oferta e da procura. Muito antes de o produto estar pronto, a demanda foi gigantesca. Quem esperou ser procurado por um fabricante com excesso de pedidos em relação a sua capacidade de produção perdeu a corrida. A declaração foi tão agressiva que suscitou respostas de diversos laboratórios. Foi a da Pfizer que mais chamou atenção:
"No dia 14 de dezembro, (a Pfizer) realizou uma reunião com a Anvisa para esclarecer dúvidas sobre o processo de submissão para uso emergencial (...), as condições estabelecidas pela agência requerem análises específicas para o Brasil, o que leva mais tempo de preparação. A submissão de uso emergencial também pede detalhes do quantitativo de doses e cronograma que será utilizado no país, pontos que só poderão ser definidos na celebração do contrato definitivo (...) tendo em vista as particularidades do Guia de Submissão para Uso Emergencial, da Anvisa, entende que a submissão contínua é o processo mais célere neste momento".
Se não ficou claro, a coluna traduz: as exigências específicas da Anvisa, diferentes das demais agências de regulação sanitária, atrasaram os processos de registro da vacina da Pfizer, desenvolvida em conjunto com a BioNtech, a primeira a ser autorizada no mundo (com exceção da China, que para assuntos de covid-19, é quase um universo paralelo).
Essa fórmula é a que exige refrigeração a -70ºC, o que significa que não é a resposta definitiva para um país continental de renda média, mas poderia imunizar ao menos profissionais de saúde de grandes centros, o que já significaria grande ganho de velocidade, eficiência e produtividade – além de humanidade, por afastar o fantasma onipresente do contágio – no combate à pandemia.
Veja a íntegra da nota da Pfizer
Em relação às negociações com o governo brasileiro e à submissão de uso emergencial da vacina BNT162, desenvolvida pela Pfizer e pela BioNTech, esclarecemos:
A Pfizer realizou em 14 de dezembro reunião com a ANVISA para esclarecer dúvidas sobre o processo de submissão para uso emergencial.
As condições estabelecidas pela agência requerem análises específicas para o Brasil, o que leva mais tempo de preparação.
Um exemplo é a solicitação de uma análise dos dados levantados exclusivamente na população brasileira, o que demanda tempo e avaliações estatísticas específicas. Outras agências regulatórias que possuem o processo de uso emergencial analisam os dados dos estudos em sua totalidade, sem pedir um recorte para avaliação de populações específicas.
A submissão de uso emergencial também pede detalhes do quantitativo de doses e cronograma que será utilizado no país, pontos que só poderão ser definidos na celebração do contrato definitivo.
Por isso, com base na regulamentação atual definida para uso emergencial, a companhia entende que o processo de submissão continua é o mais célere neste momento.
A Pfizer já submeteu à ANVISA, pelo processo de submissão contínua, nossos resultados estudos Fase 3, o que significa mais um passo rumo à aprovação de nossa vacina.
Dezembro de 2020
Pfizer Brasil