Em meio à segunda onda do coronavírus na Europa e a um agravamento da doença no Brasil, o mundo inteiro se volta para o Reino Unido. Nesta terça-feira (8), Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte deram início à vacinação em massa da população, tornando o Reino Unido a primeira nação ocidental a pegar, oficialmente, uma saída para a pandemia que vitimou 1,5 milhão de pessoas até o momento, mudou hábitos, causou desemprego e virou a vida de cabeça para baixo.
Com mais de 61 mil mortes confirmadas, o Reino Unido é o primeiro local do ocidente cujo órgão regulador autorizou o uso de uma vacina – o imunizante desenvolvida pela norte-americana Pfizer em parceria com a alemã BioNTech.
A campanha de vacinação será longa e logisticamente complicada. Idosos, funcionários e residentes de asilos e profissionais da saúde que atuam na linha de frente serão os primeiros imunizados.
Dia histórico para o mundo
O ministro da Saúde, Matt Hancock, batizou a terça-feira como “Dia V”. Nos últimos dias, 50 hospitais do Reino Unido receberam as primeiras 800 mil doses.
– As enfermeiras estarão na vanguarda e no centro da campanha, como acontece com todos os programas de vacinação - explicou o diretor do sindicato de enfermagem Royal College of Nurses à rádio privada LBC. - Há muita experiência na profissão com campanhas massivas como a da gripe, mas, neste caso, a complexidade está no tamanho - acrescentou ele.
No Oriente, a Rússia começou a operar seu próprio imunizante, apelidado de Sputnik V, na semana passada. Nos Estados Unidos e na União Européia, as agências de segurança de medicamentos devem anunciar suas vacinas em breve.
Primeira imunizada
A vacinação começou às 6h30min (horário local). A primeira pessoa a receber a dose foi Margaret Kennan, uma senhora de 90 anos. Em entrevista ao jornal The Guardian, ela disse que, agora, pode planejar o Ano-Novo com familiares e amigos - isso depois de passar praticamente o ano inteiro sozinha.
No Twitter, o primeiro-ministro Boris Johnson compartilhou imagens de Margaret recebendo a primeira dose da vacina.
"Hoje começam as primeiras vacinações no Reino Unido contra a covid-19. Obrigado ao nosso NHS, a todos os cientistas que trabalharam tão arduamente para desenvolver esta vacina, a todos os voluntários - e a todos que têm seguido as regras para proteger os outros. Vamos vencer isso juntos", escreveu Johnson.
"Corrida de longa distância"
A campanha britânica de vacinação ocorrerá, em um primeiro momento, apenas em hospitais - isso por causa da necessidade de manter a vacina da Pfizer/BioNTech em temperatura muito baixa, entre -70ºC e -80ºC. Depois, mil centros de vacinação serão estabelecidos, de clínicas ambulatoriais a centros esportivos, anunciou o ministro da Saúde, Matt Hancock.
Quando chegaram aos hospitais, as doses foram retiradas das caixas cheias de gelo seco por técnicos farmacêuticos e colocadas em freezers especiais.
- Saber que elas estão aqui e que estamos entre os primeiros no país a receber a vacina e, portanto, os primeiros do mundo, é simplesmente incrível - disse Louise Coughlan, farmacêutica-chefe do Croydon University Hospital, no sul de Londres.
Depois do grupo de risco, a vacinação seguirá levando em consideração a idade. O governo britânico espera vacinar todas as pessoas vulneráveis até abril, mas isso vai depender do ritmo de entrega das próximas vacinas. Será "uma corrida de longa distância, não uma corrida de velocidade", definiu o diretor médico de saúde pública britânico Stephen Powis.
A rainha e seu marido
O Reino Unido encomendou 40 milhões de doses da vacina da Pfizer/BioNTech, o suficiente para 20 milhões de pessoas — cada uma deve receber duas doses em um intervalo de 21 dias. É menos de um terço da população (66,5 milhões), mas a nação tem a próxima autorização de outras vacinas, incluindo a da americana Moderna e, principalmente, a da britânica Oxford.
As autoridades britânicas reservaram 100 milhões de doses do imunizante da Oxford. Como essa vacina pode ser mantida a uma temperatura entre 2ºC e 8ºC, estima-se que a distribuição seja mais fácil.
O sucesso da campanha de vacinação é crucial para o governo de Boris Johnson, amplamente criticado desde o início da pandemia por seus posicionamentos erráticos. Para combater a relutância de alguns britânicos em receber a injeção, a Rainha Elizabeth II, 94 anos, e seu marido, o Príncipe Philip, 99, podem ser vacinados em público nos próximos dias.