Depois de um longo período de negociação, a farmacêutica americana Pfizer e o governo brasileiro parecem estar mais perto de um acordo. Na tarde desta quarta-feira (3), o Ministério da Saúde anunciou que irá comprar as vacinas da Pfizer/BioNTech e da Janssen. À noite, o Departamento de Logística em Saúde da pasta publicou, em edição extra do Diário Oficial da União, os avisos de dispensa de licitação para a aquisição.
O contrato deve prever a compra de 100 milhões de doses da Pfizer/BioNTech, a serem entregues até dezembro de 2021. O imunizante já tem registro definitivo, obtido junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
As conversas entre a farmacêutica e o governo federal iniciaram em setembro, quando o CEO mundial da Pfizer, Albert Bourla, enviou um documento ao presidente Jair Bolsonaro e alguns ministros para fechar contrato de comercialização das doses. O governo recusou a proposta e disse, depois, que o acordo causaria "frustração" aos brasileiros.
Em outros países, a vacina já é utilizada. O primeiro foi o Reino Unido, que autorizou o início do processo de imunização contra o coronavírus no país com menos de um ano de pesquisas. Os resultados mostraram que a vacina obteve 95% de eficácia nos testes clínicos.
Confira o que já se sabe sobre o imunizante, que, devido à necessidade de conservação a -70ºC, deve chegar ao Brasil embalada em gelo seco, conforme havia sugerido o presidente da Pfizer no país, Carlos Murillo, em novembro do ano passado.
Eficácia
Em 18 de novembro, Pfizer e BioNTech anunciaram que haviam registrado 95% de eficácia nos resultados finais dos estudos da vacina contra covid-19. Isso significa dizer que 95 a cada cem pessoas que que receberam as doses ficaram imunes à doença.
Além disso, a vacina também se mostrou segura. Segundo as farmacêuticas, os pesquisadores não encontraram problemas sérios de segurança na vacina, que pareceu ser bem tolerada após uma revisão dos dados de 8 mil participantes — ao todo, desde o começo fizeram parte estudo quase 44 mil indivíduos em diferentes países, inclusive no Brasil.
Um efeito colateral grave foi a fadiga, relatada por 3,8% dos indivíduos, de acordo com as empresas. Além disso, 2% dos indivíduos relataram dores de cabeça.
— Os resultados do estudo marcam um passo importante nesta jornada histórica de oito meses para apresentar uma vacina capaz de ajudar a acabar com esta pandemia devastadora — disse na ocasião o CEO da Pfizer, Albert Bourla.
Tecnologia
A vacina da Pfizer/BionTech é produzida a partir da manipulação do RNA, molécula que funciona como uma espécie de "livro" de instruções que manda células produzirem determinadas proteínas. Trata-se de uma tecnologia inédita e que pode revolucionar esse mercado a partir de agora.
Como funciona: a vacina insere no nosso corpo uma molécula de RNA produzida em laboratório (apenas um "capítulo" do livro inteiro) que irá instruir nossas células a produzir uma proteína que faz parte do código genético do Sars-Cov-2. O corpo entende que essa proteína produzida é o vírus inteiro e cria uma resposta imune que nos protegerá quando o coronavírus de fato aparecer.
A vacina em si não lida com o coronavírus. Tudo é feito por engenharia genética, a partir do código do Sars-CoV-2 disponível na internet.
Doses
A vacina é administrada em duas injeções, com 21 dias de intervalo, sendo a segunda dose um reforço. Conforme a BBC News, a imunidade começa a se manifestar após a primeira dose, mas atinge o efeito total sete dias após a segunda dose.
Armazenamento
Um dos grandes, se não o maior, desafios na distribuição da vacina da Pfizer/BionTech é o armazenamento. Isso porque o imunizante precisa ser mantido a -70°C.
Essa necessidade fez com que o Reino Unido preparasse uma rede de 50 hospitais para receber, manter e aplicar as doses necessárias. Eles também construíram centros especializados em vacinação.
E no Brasil?
— Imagina ter um freezer de -70°C para armazenar e congelar? Isso inviabiliza uma distribuição porque muitos postos de saúde daqui e da maioria dos países do mundo não têm esse tipo de freezer — disse Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em entrevista a GZH.
Onde é utilizada
Além do Reino Unido, a vacina da Pfizer é largamente utilizada em países da União Europeia e nos Estados Unidos. Mas é em Israel que está se destacando, ao lado do imunizante da Moderna, já que o país do Oriente Médio é o que mais vacinou no mundo, relativamente ao tamanho da sua população, devendo chegar a 100% dos habitantes no próximo domingo (7). Na América Latina, o Chile, país que mais vacinou em comparação a seus vizinhos, também conta com doses da Pfizer.
No Brasil, curiosamente, a vacina da Pfizer é a única que tem registro definitivo, obtido junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apesar de ainda não estar em uso. O imunizante de Oxford e a CoronaVac, únicos presentes na vacinação no país até agora, têm autorização para uso emergencial no Brasil, o que permite utilização para grupos prioritários.
Resumo: vacina Pfizer/BioNTech
- Eficácia: 95%
- Tecnologia: usa RNA
- Doses: duas
- Vantagens: mais rápida, menos eventos adversos
- Desvantagens: dificuldade logística de congelamento, tecnologia sem precedentes. É mais cara
- Previsão de chegada ao Brasil: até dezembro de 2021