Israel está muito perto de se tornar o primeiro país do mundo a ter toda a população imunizada com ao menos uma dose de vacina contra a covid-19. Conforme o ranking da Universidade de Oxford, utilizado pela coluna para comparação entre nações, o país do Oriente Médio registra, nesta quarta-feira (3), 96,07% doses aplicadas para cada cem habitantes.
No sábado (27), Israel registrava 92,73 doses para cada cem habitantes. Se continuar nesse ritmo, o país deve completar o total da população com ao menos uma dose até domingo (7). Os israelenses têm contratos com os laboratórios Moderna e Pfizer/BioNTech.
Além de planejamento, com negociações antecipadas com laboratórios e investimento do governo na compra em massa da vacina, Israel apostou na tecnologia e organização de seu sistema de saúde. Realiza uma campanha exitosa, mesmo em meio a uma turbulência política que levará o país a realizar em março a quarta eleição em dois anos.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, réu por corrupção, apostou com tudo na vacinação como estratégia política para se manter no poder - o que lhe garante imunidade diante da Justiça. Ele próprio se engajou em uma campanha contra as notícias falsas, que questionavam a eficácia e segurança dos imunizantes.
Em um vídeo, no feriado israelense do Purim (que marca a salvação dos judeus perseguidos por Hamã, ministro-chefe do rei persa Assuero), Netanyahu apareceu no centro de um ginásio, com um megafone, no qual um palhaço, representando um negacionista, o questiona com informações falsas que costumam circular pela internet. Netanyahu, conhecido como Bibi entre os israelenses, afirma:
- Não seja um palhaço. Essas vacinas foram aprovadas pelos maiores especialistas do mundo a FDA americana. Milhões já foram vacinados e agora estão seguros.
Ao longo do vídeo (assista abaixo), o negacionista muda de roupa, vestindo-se de Daenerys Targaryen, de Game of Thrones, e chega a usar uma fantasia de cachorro para dizer que a vacina pode mudar o DNA da pessoa - o que é mentira. O premier vai rebatendo as fake news, com bom humor e usando de dados científicos.
O vídeo repercutiu no Brasil, onde muitos internautas compararam o palhaço ao presidente Jair Bolsonaro. Netanyahu e o brasileiro são aliados. O israelense foi um dos únicos líderes internacionais de primeiro escalão a comparecer à posse de Bolsonaro, em Brasília, em 2019. Naquele ano, em afinamento com a então política americana de Donald Trump, o Brasil ensaiou a mudança da embaixada em Tel-Aviv para Jerusalém - algo que os EUA consolidaram. Diante da ameaça de boicote de países islâmicos, o Planalto recuou, criando apenas um escritório de negócios.
O sucesso de Israel na vacinação contra a covid-19, no entanto, é questionado internacionalmente uma vez que o país não estendeu a campanha aos Territórios Palestinos. O governo Netanyahu afirma que a responsabilidade na Cisjordânia é da Autoridade Nacional Palestina (ANP), o que é questionável, uma vez que boa parte da área é ocupada militarmente por Israel.
No domingo (28), o país confirmou que vacinará os palestinos da Cisjordânia, mas apenas aqueles que têm permissão para trabalhar nos assentamentos (áreas cercadas onde vive população israelense dentro da Cisjordânia) e em Israel. A ANP havia afirmado na semana passada que alcançara um acordo com Israel para a imunização de 100 mil trabalhadores.