A entrevista de despedida do ainda presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Junior – ele só deixa o cargo em 5 de março – foi explícita: a causa da saída foi a perda da expectativa de privatização da empresa.
Diplomático, Ferreira Junior afirmou que a venda da estatal é prioridade do governo federal, mas que a decisão esbarra na resistência do Congresso. Depois de cinco anos no comando da companhia, esperando para comandar a transição, o executivo afirmou que não se dispõe a esperar mais. E não disse, mas deixou claro, ainda mais sem saber por quanto tempo.
– Com a reestruturação conclusa, o próximo projeto era exatamente a capitalização, que não pôde acontecer nos dois primeiros anos, e que não encontra, na minha avaliação pessoal, essa prioridade dos potenciais candidatos ao Congresso – declarou Ferreira Junior na segunda-feira (25) a um grupo de jornalistas, referindo-se às eleições para as presidências da Câmara e do Senado.
Se há, sim, resistência parlamentar, também zero esforço de convencimento do Legislativo por parte do Planalto. Em evento para investidores, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que pretende acelerar privatizações e concessões, mas palavras já não convencem ninguém, como afirmou Elena Landau à coluna: ou o governo age para demonstrar seu compromisso com a chamada "capitalização" da estatal de energia, ou adiará essa agenda ao próximo governo realmente comprometido com desestatizações.
Ferreira Junior trocou uma empresa aparentemente "não privatizável" por uma já privatizada, a BR Distribuidora. Sua intenção era conduzir um processo de desestatização nos moldes da rede de postos antes pertencente à Petrobras, que virou uma corporação, ou seja, uma empresa sem controle definido. Não conseguiu, e agora o mercado avalia que é um jogo perdido. Tanto, que o Centrão já cobiça a indicação para a presidência da empresa.
Atento, o conselho de administração da Eletrobras fez questão de publicar uma nota, na noite de segunda-feira (25), em que reivindica a indicação do próximo gestor. Depois de se reunir, emitiu comunicado ao mercado no qual afirma que "é missão do conselho de administração zelar pela higidez do sistema de governança e pela adequada direção da Eletrobras, em linha com as diretrizes e objetivos traçados no plano estratégico (...) e em seu plano diretor de negócios e gestão (...)".
É uma tentativa de evitar que o cargo vire objeto de barganha política, com alto risco de, inclusive, condicionar a disputa que se define nos próximos dias. O comunicado torna mais difícil uma escolha baseada apenas no toma-lá-dá-cá, mais por mérito de Michel Temer do que do atual governo. Na sua gestão, foi desenhado um sistema de gestão que, de fato, dá autonomia ao conselho para escolher o CEO.
Se quiser se atravessar no processo, Bolsonaro terá de determinar convocação de assembleia-geral extraordinária, demitir os atuais conselheiros e eleger novos. Mas se isso ocorrer, o efeito nas ações da Eletrobras será bem pior do que a queda de 4% registrada até o final da manhã desta terça-feira (26). Na véspera, feriado em São Paulo e dia de bolsa nacional fechada, os papéis da companhia despencaram 11% em Nova York.
No Estado, a Eletrobras atua por meio da CGTEE, que "engoliu" a Eletrosul em um dos exóticos processos para reduzir o endividamento da empresa. Tem participação relevante em hidrelétricas, como a Foz do Chapecó, na divisa com Santa Catarina.