De tudo o que já se disse sobre a modelagem da Eletrobras, um aspecto ficou claro: o governo quer algo semelhante a uma Renner para o setor de energia. A explicação: a Lojas Renner foi a primeira empresa brasileira a abrir capital na bolsa de forma pulverizada. Isso quer dizer que não há um controlador definido, um investidor que tenha a palavra final sobre decisões estratégicas, que são tocadas pela equipe de gestão. Como se sabe, a Renner vai muito bem, obrigada. Seu principal executivo, José Galló, foi indicado no ano passado como melhor CEO do Brasil pela revista Época Negócios, reflexo do fato de ter se tornado referência em gestão.
Agora, se a Eletrobras vai obter o mesmo sucesso, é outra conversa. O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, foi explícito. Disse que, se depois da oferta, o governo permanecer com ações suficientes para manter o controle, pode vender esse excedente para garantir o controle pulverizado.
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A escolha do governo, porém, não foi focada na eficiência da gestão. A saída de aumentar capital da Eletrobras pela via da emissão de ações, sem que o atual controlador, a União, acompanhe, mira o uso que se pretende fazer dos valores arrecadados. As regras dos programas de privatização de estatais no Brasil determinam que os recursos obtidos no processo só podem ser usados na redução da dívida, ou seja, no resultado nominal.
Como o governo federal anda desesperado para evitar novos descumprimentos da meta fiscal, quer garantir que os valores provenientes da venda de ações da Eletrobras possam ser usados para compor o resultado primário, que serve de referência para a meta.
É a pressa do governo federal em arrecadar os cerca de R$ 30 bilhões que pode render a venda de ações da Eletrobras que complica os planos do Piratini para incluir a CEEE no pacote antes da oferta pública. Por conta disso, voltou a ideia de sugerir, outra vez, que os deputados aprovem a dispensa de plebiscito.