O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A piora da pandemia, em parte das regiões brasileiras, ameaça a economia na largada de 2021. Diante desse quadro, o avanço da vacinação contra a covid-19 é necessário para permitir a melhora no ambiente de negócios, destaca o economista João Leal, da Rio Bravo Investimentos. À coluna, Leal também sinaliza que o auxílio emergencial deve ser retomado no país, desde que tenha desenho adequado. Abaixo, veja os principais trechos da entrevista.
Como descreve o cenário para a economia brasileira no início de 2021?
O cenário para a economia, no comecinho deste ano, é bastante ruim, negativo. Esperamos retração do PIB no primeiro trimestre. Em grande medida, tem relação com a piora na pandemia, com a nova onda de casos e novas variantes do vírus. Isso explica a perda de fôlego de alguns indicadores, incluindo os de confiança.
Também há o impacto bastante relevante da retirada de auxílios. O fim do auxílio emergencial dá margem para essa perspectiva mais negativa. Outro fator para o desempenho ruim é o mercado de trabalho. Apesar do resultado positivo em 2020 (142 mil vagas formais criadas), o cenário para o começo deste ano não é o mesmo. Há retirada de programas de garantia de empregos.
Mesmo com as restrições fiscais, o país discute eventual retorno do auxílio emergencial. É possível retomar o benefício?
A atividade econômica está em situação pior do que no final do ano passado. Está se tornando necessária a retomada do auxílio emergencial nos próximos meses. O que preocupa o mercado não é a retomada, mas como o auxílio vai ser desenhado: por quanto tempo, qual será o novo valor do benefício. Essa é a preocupação, e não se vai voltar ou não.
É preciso que o governo detalhe melhor o que está pretendendo. O auxílio ficará dentro do teto de gastos? Vejo com preocupação. Se o governo tentar colocar o auxílio dentro do Orçamento, há risco de que ele se torne permanente. A melhor estratégia, hoje, para o governo, é retomar uma prática feita no ano passado. É utilizar créditos extraordinários, com a justificativa de que há uma despesa temporária e bastante relevante.
Ou seja, o governo tira esse gasto do teto, mas comunica de forma bastante clara para o mercado que o número de beneficiários cairá, que o valor será reduzido e que a despesa será bem menor do que no ano passado. Se o programa for desenhado como no início de 2020, aí, realmente, a situação fiscal ficará muito séria. Mas não acredito que isso vai acontecer. O cenário base é de que o governo vai manter o compromisso com as metas fiscais.
A melhora da economia passa por quais ações?
No curto prazo, o foco do governo deve ser a vacinação. É a vacinação que garantirá uma retomada econômica mais sustentada neste ano. É isso que vai garantir o crescimento. Estamos muito dependentes da velocidade da imunização. No médio prazo, no final deste ano e nos próximos, a gente terá de retomar, com mais força e afinco, as propostas de reformas.
Quais?
Coloco como destaques a reforma tributária, a administrativa, a PEC do Pacto Federativo e a PEC Emergencial, que vem para regulamentar gatilhos fiscais. Com essas reformas, podemos ter crescimento muito forte de produtividade, de investimento estrangeiro. Para garantir caminho sustentável, o Brasil precisa mostrar compromisso maior com a pauta fiscal e as reformas.
Entra ano, sai ano, e as reformas ficam cada vez mais urgentes. A falta de segurança fiscal e produtiva atrapalha nosso crescimento. Para este ano, o crescimento estará baseado em duas grandes variáveis. Uma é como vamos lidar com a nova onda da pandemia, o quanto ela vai ficar no Brasil, impondo novas restrições e atrapalhando a economia. A outra é o quão rápido vamos vacinar.