Na semana passada, diante dos impressionantes números da saída de dólares do Brasil apresentados pelo Banco Central (BC), a coluna compilou as informações e analisou os motivos da fuga, entre os quais o desprezo do governo Bolsonaro diante das queimadas na Amazônia e no Pantanal. Na terça-feira (13), em entrevista à CNN, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi o primeiro integrante do primeiro escalão a explicitar a relação de causa e consequência:
– Começou a ficar mais aparente essa percepção em relação à agenda de sustentabilidade. Às vezes pela narrativa ou às vezes pelo que tem acontecido, está fazendo com que os fluxos para o Brasil não estivessem voltando na mesma proporção que eles voltaram em países emergentes. De fato, existe essa preocupação (com a gestão ambiental no Brasil).
Isso ocorreu depois que, no final da semana e na terça-feira (13), dois ministros falaram no "boi bombeiro" –suposta influencia benéfica da criação de gado no combate ao fogo no Pantanal. O fato de a informação ter partido de Tereza Cristina, da Agricultura, foi chocante porque a titular da Agricultura é considerada destacada integrante da ala racional do governo. Que tenha sido repetida por Ricardo Salles, do Meio Ambiente, não surpreende.
Para lembrar, os investimentos externos diretos no Brasil caíram 85% em agosto. A saída de dólares no país de janeiro até 2 de outubro aumentou 32% em relação ao mesmo período ano passado, atingindo retirada líquida (descontada a entrada) US$ 18,67 bilhões.
O risco ambiental não é o único motivo, como a coluna já observou: a redução do juro, a anunciada estratégia de "juro baixo e dólar alto", o negativismo na pandemia e o flerte com a irresponsabilidade fiscal, também precisam ser considerados. Campos Neto, que chegou a ser considerado um substituto mais do que aceitável em caso de saída de Paulo Guedes do Ministério da Economia, admitiu o óbvio. Mas identificar e reconhecer dados factuais é um comportamento tão excepcional no governo Bolsonaro que Guedes deve ficar sem sucessor natural.
Como a coluna também registrou, o Brasil já recebeu recados de nações estrangeiras – entre as quais, a Alemanha –, da Nasa, de fundos de investimento globais, de presidentes de empresas e de bancos brasileiros. Diante das evidências, Campos Neto disse fazer o que pode:
– O BC não é formulador desse tipo de política, mas alertamos e mostramos o caminho. Conversamos com investidores e fazemos o link com o governo para que possamos alinhar uma narrativa que seja construtiva.
Em outro discurso para dentro da Esplanada dos Ministérios, o presidente do BC lembrou que, atualmente, tema que mais preocupa o potencial investidor no Brasil é outra sustentabilidade, a fiscal, colocada em questão pelo afã presidencial em criar um programa social para chamar de seu, o Renda Cidadã. Não pelo futuro do governo, mas pelo do Brasil, é preciso ser sustentável – lembrando que falta um pilar do conceito, o social.