Uma combinação que já havia sido apontada na sexta-feira (15) se cristalizou nesta segunda-feira (18) em que a bolsa caiu 1,73%, para 99,5 mil pontos, e o dólar subiu 1,26%, para R$ 5,496. Durante o dia, a queda na bolsa encostou em 3%, o tombo se suavizou no final da tarde. Desta vez, a culpa não foi do vaivém da pandemia, mas da preocupação com os desdobramentos da "crise do teto".
– O mercado já começa a discutir a possível saída de Guedes – disse à coluna Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.
A percepção de investidores e especuladores, detalhou Agostini, é de que, com a melhora da popularidade do presidente, aumenta a autonomia de Bolsonaro em relação a seu "Posto Ipiranga". E observou:
– Isso é um risco de virada para o populismo em época de eleição. O mercado até já ventilando que Guedes poderia vir a ser substituído pelo atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que poderia ser um nome com menos rejeição, ou até sem rejeição.
Embora nesta segunda-feira (17) a XP Investimentos tenha apresentado pesquisa de opinião que reforça o resultado do levantamento do Datafolha de sexta-feira passada (15), com alta na popularidade de Bolsonaro, Agostini avalia que "não houve notícias nova" que tenha levado à piora nos indicadores do mercado.
Nesse sentido, embora não tenha sido determinante, a saída do oitavo integrante da equipe de Guedes, o subsecretário Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, adicionou estresse, assim como nova reunião entre Bolsonaro e o ministro da Economia. Agostini detalha a situação:
– O mercado está observando muito, e muito de perto, assimilado o aconteceu no final da semana. Essas conversas de que governo pode não cumprir o teto de gastos provocam desgaste de Paulo Guedes, porque ele é contra a liberação de recursos para obras. A discussão para o orçamento de 2021 também não é vista com bons olhos, porque a margem de mudança é pequena, até por todo o gasto que ocorreu neste ano. Há preocupação com a sustentabilidade da dívida. E com a alta na aprovação, de 30% para 37%, pode dar ao presidente uma sensação de autonomia, de não precisar tanto assim de Guedes. A questão é se essa sensação de autonomia vai prevalecer, e se o fiador ainda é Paulo Guedes.