Na penúltima semana de setembro, o Banco Central (BC) informou que os investimentos externos diretos no Brasil haviam caído 85% em agosto. Nesta semana, informou que a saída de dólares no país de janeiro até 2 de outubro aumentou 32% em relação ao mesmo período ano passado, considerado o saldo negativo da movimentação cambial.
Isso significa que, no primeiros nove meses do ano, saíram do Brasil mais US$ 18,67 bilhões, além do recorde de fuga de US$ 44,77 bilhões do ano passado.
Com esses dados, fica mais fácil entender a pressão recente sobre o dólar, acentuada pelos sinais ambíguos do governo em relação ao compromisso de manutenção do ajuste fiscal. A saída histórica e crescente de dólares do Brasil tem origem na redução do juro básico, porque rende menos para os investidores financeiros. Antes, ganhavam com a variação cambial e com as taxas altas.
Mas se a movimentação financeira é especulativa, o investimento externo direto representa entrada de capital que gera produção e emprego no Brasil. No acumulado de 12 meses até agosto, somaram escassos – para o histórico do país – US$ 54,5 bilhões, o menor resultado desde agosto de 2010. E até agora não há sinais de que a situação melhorou em setembro.
Quando o Banco Central acelerou o corte da Selic, começou a incentivar essa saída. Quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, avisou que a estratégia era "juro baixo e dólar alto", acentuou o movimento. Quando o presidente Jair Bolsonaro se uniu aos negativistas da pandemia, desprezou as queimadas na Amazônia e no Pantanal e, não bastasse, passou a flertar com a irresponsabilidade fiscal, acentuou a fuga de capitais.
No ano passado, a saída de dólares do Brasil se intensificou em dezembro, mês em que multinacionais fazem remessas de lucros para suas sedes. Só em dezembro, zarparam rumo a um porto seguro US$ 17,6 bihões, quase o mesmo valor do saldo negativo acumulado até agora neste ano. A decisão sobre o futuro do Renda Cidadã e do orçamento de 2021 será crucial para definir se 2020 poderá quebrar o triste recorde do ano passado.