O preço médio do litro do diesel no país ficou em R$ 3,554 na semana passada, conforme pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O valor é apenas R$ 0,04 menor do que a média semanal que antecedeu a eclosão da greve dos caminhoneiros, dia 21 de maio do ano passado. Com o reajuste de 5,7% anunciado pela Petrobras – e em seguida suspenso por intervenção do presidente Jair Bolsonaro –, provavelmente passaria com folga o patamar dos dias anteriores à paralisação da categoria.
Bolsonaro deu indícios de que não sabe, mas desde meados de 2017 a estatal tem uma política de preços baseada principalmente na cotação internacional do petróleo e no câmbio. O presidente ficou surpreso porque o reajuste teria sido muito acima da inflação, o que não é balizador dos cálculos da Petrobras. O capitão reformado já admitiu que não entende de economia e, por isso, contaria com o oráculo Paulo Guedes. Mas desta vez, mesmo o assunto sendo combustíveis, o “Posto Ipiranga” não foi consultado.
Em relação ao petróleo, nada a fazer. O preço é internacional e, por sorte, o tipo brent está US$ 8 o barril abaixo do início da greve dos caminhoneiros. Ou seja, boa parte da pressão vem do câmbio. O dólar encerrou a sexta-feira a R$ 3,88, o equivalente a R$ 0,20 a mais em relação a 21 de maio de 2018. A moeda americana passa um ciclo de valorização ante seus pares, mas não há sobressaltos nas últimas semanas. A valorização do dólar sobre o real, portanto, tem boa dose de responsabilidade do governo, com sua falta de articulação política e certo desleixo do Planalto com a reforma da Previdência, que caminha para demorar mais para ser aprovada e, ainda por cima, desidratada. O país ficou refém da mudança no sistema de aposentadorias e esse seria ponto em que Bolsonaro poderia ajudar.
Distensionamento e comprometimento também contribuiriam para melhorar as expectativas para a economia. Com a atividade letárgica, não melhora a demanda por cargas. Na sexta-feira, o Itaú cortou projeção crescimento do PIB em 2019 de 2% para 1,3%. Se a elevação das incertezas levarem a população a diminuir o consumo e os empresários a segurarem ainda mais os investimentos, será menor a circulação de mercadorias e a procura por frete.
Queda no tráfego
Outro sinal de que o problema dos caminhoneiros é mais a falta de carga do que o preço do combustível vem do índice de tráfego da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). Em março, o trânsito de veículos pesados nas estradas pedagiadas avaliadas caiu 3,3% na comparação com o mesmo mês de 2018. Em relação a fevereiro, descontados os efeitos sazonais, o recuo foi de 1,2%. Na passagem de janeiro para fevereiro também foi observada queda de 1% na circulação. Nos últimos meses, outubro e dezembro tiveram recuo. Vale ressaltar que, em 12 meses, há alta de 1,2% até março.