O recuo do presidente Jair Bolsonaro no reajuste do diesel, que provocou um terremoto no mercado financeiro e fez despencarem as ações da Petrobras, tem um efeito mais perverso do que a perda de valor da estatal, estimada em R$ 32,4 bilhões: a quebra de confiança dos investidores. A interferência, que contraria o discurso do ministro da Economia, Paulo Guedes, passa a ideia de que o presidente é refém dos caminhoneiros que em 2018 pararam o país.
Bastou a ameaça de greve (ainda restrita aos grupos de WhatsApp), para Bolsonaro desautorizar o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco:
Preocupação legítima, diante do caos que a paralisação de 2018 provocou em todo o país e que, por pouco, não derrubou o então presidente Michel Temer. Era greve no caso dos autônomos, mas a adesão das grandes transportadoras se caracteriza tecnicamente como locaute.
Os caminhoneiros estão eufóricos com o recuo, porque sofrem com o aumento do diesel e de outros insumos. A tabela do frete, negociada no ano passado, não colou. E não colou pelo mesmo motivo que sucessivas tentativas de controlar preços na marra deram errado: não se revoga a lei da oferta e da procura por decreto. Basta lembrar o congelamento da época do Plano Cruzado, com os “fiscais do Sarney” em campo ou a redução das tarifas de energia no governo Dilma Rousseff para temer as consequências de uma gestão exclusivamente política nos preços dos combustíveis.
Uma declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em Porto Alegre, contraria o vice-presidente Hamilton Mourão, que tratou a intervenção no preço do diesel como uma questão pontual. Questionado pelo repórter Gabriel Jacobsen sobre a decisão do pai, Eduardo respondeu:
– É necessário. Eu acredito que, em alguma medida, isso aí (intervenção no preço) vale para todos os combustíveis.
E emendou:
– O mundo que a gente entende como perfeito é sem intervenção. Mas isso daí é feito a passos graduais. O ideal, no mundo liberal, é um país sem barreiras alfandegárias. Se reduzirmos a zero as taxas de importação e exportação, o produtor nacional vai quebrar? É óbvio que sim. O que temos de ter em mente é reduzir o custo Brasil, para colocar o mercado nacional em condições de competir de igual para igual com o internacional.
ALIÁS: Entre os agrados de Bolsonaro aos caminhoneiros estão a promessa de acabar com os pardais nas rodovias e de ampliar de 20 para 40 o número de pontos para perda da carteira de motorista.