A decisão do presidente Jair Bolsonaro de pedir recuo no reajuste do diesel no mesmo dia em que o aumento foi anunciado pela Petrobras agrada os caminhoneiros, mas não afasta o clima de insegurança que inunda a categoria.
Para o presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul (Fecam-RS), André Costa, a atitude é positiva, mas não é "garantia nenhuma".
— É um problema termos apenas resoluções pontuais. Claro que é uma decisão bem-vinda, mas o que nos coloca em uma situação bastante delicada é que não há regra clara que beneficie o transportador autônomo no futuro — explica.
Na visão de Costa, o ideal é a criação de uma regulamentação que permita que o caminhoneiro possa gerir melhor o trabalho. Ele defende uma legislação que garanta mais autonomia ao trabalhador, além de uma fiscalização eficaz sobre o piso mínimo da tabela de frete — de responsabilidade da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
— Esse aumento (do diesel) vai vir em algum momento no futuro. Então, se não existir regra clara que dê o mínimo de garantia, a situação fica delicada. Enquanto isso, fica essa sensação de insegurança no setor. Isso prejudica — lamenta.
O vice-presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí (Sinditac-Ijuí), José Cecchetto também destaca a falta de fiscalização da tabela do frete. Segundo ele, o valor não é respeitado pelas empresas.
— O recuo é bom. Mas a falta de fiscalização quebra todo mundo. Daqui a pouco, não se tem dinheiro para trocar pneus, para fazer manutenção — diz.
Apesar das incertezas, por enquanto, representantes descartam a possibilidade de uma nova paralisação nos próximos meses.
"Comprometimento do governo"
Um dos principais líderes dos caminhoneiros no país mostrou opinião diferente. Wallace Landim, o Chorão, que esteve envolvido na organização da greve da categoria no ano passado, afirmou que a atitude de Bolsonaro "prova que mais uma vez" o presidente está do lado dos trabalhadores do setor. A afirmação foi feita em entrevista ao jornal Estão de S. Paulo.
— É um comprometimento que ele teve com a categoria e que a gente teve apoiando a sua candidatura — declarou.
Petrobras perdeu R$ 32,4 bilhões
Com o recuso do reajuste, decidido por Bolsonaro, as ações da Petrobras caíram cerca de 8%. Com isso, a estatal perdeu R$ 32,4 bilhões em valor de mercado.