Desde a greve dos caminhoneiros realizada em maio de 2018, qualquer possibilidade de mobilização da categoria aumenta o sinal de alerta dentro do Planalto. Na segunda-feira (25), o porta-voz da presidência da República, general Otávio Santana do Rêgo Barros, disse que o governo está acompanhando as movimentações de grupos de caminhoneiros no país e a ameaça de uma nova paralisação da categoria. Lideranças do setor, entretanto, não acreditam que uma mobilização semelhante à do ano passado possa acontecer em breve.
Parte da categoria segue descontente em relação ao piso mínimo da tabela de frete, reclamando que as empresas não estão cumprindo o pagamento do valor mínimo, e cobram uma fiscalização mais ostensiva da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Rêgo Barros destacou que o presidente Jair Bolsonaro está ciente das dificuldades da categoria e está "disponível" para discutir soluções. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) acompanha a situação.
O preço do óleo diesel, figura recorrente no pleito dos caminhoneiros, segue na pauta de reivindicações. Os profissionais pedem que o governo estabeleça algum mecanismo para que o aumento dos combustíveis, que se baseia em dólar, seja feito só uma vez por mês, e não mais diariamente.
Na terça-feira (26), a Petrobras deu um sinal nesse sentido. A estatal anunciou mudança na periodicidade para reajustes do diesel. A partir de agora, o preço do combustível não poderá ser reajustado em períodos inferiores a 15 dias. A petroleira anunciou ainda a criação do "Cartão Caminhoneiro", que permitirá a compra do combustível a preço fixo nos postos com a bandeira BR. O cartão deve entrar no mercado em 90 dias.
No Rio Grande do Sul, entidades estão céticas
O presidente da Associação dos Caminhoneiros de Soledade, Felipe Corneli, não acredita em uma greve nos mesmos moldes do ano passado nos próximos dias. Ele defende uma maior fiscalização da ANTT no âmbito da tabela de preços mínimos do frete.
— Essa greve, isso é especulação. Não tem o porquê fazer greve nesse momento, porque o que queríamos, que era o piso mínimo, nós conquistamos. Só que as empresas não estão pagando. Não vai ser fazendo greve que nós vamos conseguir. Temos de pressionar a ANTT para que ela fiscalize.
O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí, Carlos Alberto Litti Dahmer, diz que a entidade não está se posicionando sobre os boatos nas redes sociais sobre greve.
Litti entende que o momento é extremamente difícil e que a sensação do "ganhou mas não levou" prevalece na categoria em relação às últimas conquistas. No entanto, ele observa que "não existe uma unidade mínima em torno do movimento, uma vez que a insatisfação manifestada nas redes sociais não apresenta rumos e nem comandantes".
O presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul (Fecam-RS), André Luis Costa, disse que o "momento é bastante delicado, pois há divergência sobre o movimento dentro da categoria". Ele afirma que a entidade entende "que não é o momento de tumulto".
— Sabe-se que a política é uma arte e não é no grito, na violência ou no dano á sociedade que vamos conseguir avançar em melhorias para o setor — afirmou.
Costa disse esperar que a tensão diminua e que "os que insuflam a categoria pelas redes sociais tenham um pouco mais de sensatez".
Liderança não confirma greve
Nas redes sociais, circulam mensagens sobre possibilidade de greve convocada para o sábado (30). Na opinião do presidente das associações Abrava e BrasCoop, que representam a classe de caminhoneiros, Wallace Landim, o Chorão, a mobilização perdeu força. Landim, que foi uma das principais lideranças da paralisação de 2018, acredita que, se ocorrer, se limitará a paralisações pontuais.
— É preciso reconhecer que o governo está mobilizado, para nos atender. Por isso, acho que uma paralisação neste momento não ajuda em nada. O presidente Bolsonaro, me disseram ministros, deve anunciar um posicionamento para nós nesta semana. Nós apoiamos a eleição do presidente, então é preciso aguardar um pouco — disse Landim.
O caminhoneiro entende que congelamento no preço do diesel por períodos de 15 dias e o "cartão caminhoneiro", anunciados pela Petrobras, ainda não são suficientes para evitar uma greve da categoria. Landim afirma existir de 15 a 20 grupos de articulação pela paralisação no WhatsApp. Eles fogem ao controle de lideranças sindicais com as quais o governo tem conversado.