A surpreendente escolha do governador Eduardo Leite para o comando do Banrisul de um especialista de fora do Estado está vinculada à decisão de não privatizar o banco. Por isso, desde a vitória nas eleições, procurava um gestor que pudesse dar à instituição estadual uma governança com critérios e parâmetros semelhantes aos de bancos privados.
Ciente de que a indicação de um especialista de fora do Estado para o banco seria polêmica – mais do que as dos secretários da Fazenda, Marco Aurélio Cardoso, e do Planejamento, Leany Lemos –, Leite chegou a fazer contatos com especialistas gaúchos. Um dos consultados foi o ex-secretário da Fazenda Aod Cunha, que declinou por conta de compromissos profissionais já assumidos e do nascimento recente da filha Victoria.
Contribuiu para a escolha de um especialista de fora do Estado a disputa que se estabeleceu para a presidência do Banrisul, que acabou gerando desconforto no próprio governador diante de pressões e lobbies. Além disso, os candidatos representavam visões já definidas sobre a melhor escolha para obter recursos com operações envolvendo partes do banco. Na avaliação de interlocutores do governador, ao indicar um ocupante do cargo poderia sinalizar o futuro dessas operações.
Com ajuda de Aod, Leite mapeou executivos ligados ao sistema financeiro, e surgiu o nome de Claudio Coutinho. Uma de suas credenciais foi ter sido indicado por Maria Silvia Bastos Marques, quando a executiva assumiu a presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Foi diretor financeiro na curta gestão de Maria Silvia na instituição federal, e saiu quando a executiva renunciou. Na época, Coutinho foi chefe do atual secretário da Fazenda, Marco Aurélio Cardoso, o que sugere boa sintonia entre os dois.
Uma das missões de Coutinho no Banrisul será fazer uma cuidadosa gestão de riscos, uma de suas áreas de especialidade. Não só para conduzir a retomada de concessão de crédito de forma cautelosa – existe apoio para essa recuperação do financiamento, desde que seja prudente –, como também para contribuir com o debate em torno da melhor opção para obter recursos para o futuro do banco: a venda de excedentes de ações ordinárias que garantem o controle público da instituição ou a venda da subsidiária Banrisul Cartões.
Também ajudou o fato de que Coutinho, depois de ter atuado em várias instituições de ponta no país, estava inclinado a ter uma experiência na gestão pública, algo raríssimo entre profissionais com seu grau de especialização. Ao justificar a escolha pouco óbvia de um especialista que não conhece os detalhes sobre o funcionamento da economia gaúcha, Leite tem repetido um mantra que nasceu ainda na transição:
– Tenho dito 'sirvam as nossas façanhas de modelo a toda terra', mas que, também, sirvam outras façanhas de modelo para nós.