Justificado por "razões pessoais", o pedido de demissão de Maria Silvia Bastos Marques da presidência do BNDES é novo abalo para o governo Temer. Nem a substituição rápida, por Paulo Rabello de Castro, foi capaz de amenizar o impacto da baixa técnica e política. Embora Rabello seja um economista conhecido no país e de longa trajetória, sabe-se que a maior credencial ao novo cargo é a amizade com o atual ocupante do Palácio do Planalto.
O desenrolar da substituição – em nota, Maria Silvia chegou a anunciar que seu interino seria Ricardo Ramos, do quadro de carreira do BNDES – só confirma a incompatibilidade entre as partes. Cerca de três horas depois, Rabello foi anunciado. E com uma curiosidade: durante a semana, o então presidente do IBGE, em entrevista ao jornal Valor Econômico, saiu-se com a frase "que se dane o governo".
Leia mais
Um péssimo sinal para Michel Temer
"Não faltará crédito para a retomada", diz Maria Silvia
Maria Silvia dá um banho de modernidade ao BNDES
O contexto: Rabello tentava assegurar a credibilidade do IBGE ante a desconfiança sobre mudanças de metodologia. Completava o raciocínio assim: "Eu não tô aqui nem para produzir dados bons nem dados ruins para ninguém. Os dados são os que são."
Assim que a saída foi informada, a bolsa perdeu 300 pontos em minutos. Fechou em alta, mas faltava pouco para o encerramento. A questão é se Maria Silvia é caso isolado ou se representa o começo do fim do maior ativo de confiança do governo, a equipe econômica.
No segundo pronunciamento após da delação da JBS, Temer havia tentado responder a críticas de que a gestão do BNDES havia travado financiamentos:
– A presidente Maria Silvia moralizou o BNDES. Botou ordem na casa. E tem meu respeito e meu respaldo.
Na voz do próprio presidente, com a perda de Maria Silvia, o governo perde moral.