Não faltaram sinais de que o Banrisul era central na negociação do regime de recuperação fiscal (RFF) para o Estado, mesmo antes da reunião em que a equipe do Planalto anunciou a exigência com todas as letras, como descreve a repórter Juliana Bublitz. Em janeiro de 2107, o então ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, expôs a condição ao governador José Ivo Sartori. Ao substituir Meirelles no cargo, em abril passado, Eduardo Guardia avisou que ajudaria Estados, se privatizassem ativos. Não foi explícito, mas quem sabia da queda de braço, entendeu.
Mesmo assim, o Banrisul foi alvo de operações em série que foram descascando o principal patrimônio do Estado para quitar despesas correntes, como folha de pagamento e repasses obrigatórios. Primeiro, houve o leilão que vendeu todas as ações preferenciais (que não dão direito a voto, ou seja, não permitem que seus proprietários participem das decisões sobre o futuro do banco) por R$ 484,9 milhões em 10 de abril.
Dezessete dias depois houve outra oferta, a primeira de papéis ordinários (que pode dar o controle). Rendeu escassos R$ 52,5 milhões e a abertura de investigação na Comissão de Valores Mobilários (CVM), já arquivada sem consequências. O governo ensaiou ainda a venda da divisão de cartões (Banricompras), que foi abortada mas custou R$ 353,5 milhões em redução de capital. Feito no último dia útil de novembro, o desembolso poderia ser evitado, já que seu objetivo era reduzir a tributação sobre o que o Piratini obteria com a venda.
Independentemente do que se deseje para o Banrisul – venda ou manutenção como instrumento de política pública –, o banco merece ser melhor tratado. Retirar nacos para pagar despesas regulares equivale a vender o carro para pagar o jantar. Pode não haver nem carro nem jantar. À luz da informação de que não há RFF sem Banrisul, a sociedade gaúcha precisa debater, com maturidade, o que é mais relevante, considerando que o acordo envolve R$ 9 bilhões de alívio para uma dívida ao redor de R$ 60 bilhões.