O vencedor da eleição presidencial marcada pela raiva – conforme pesquisa do Datafolha, 66% dos brasileiros compartilham desse sentimento – enfrentará o maior desafio das últimas décadas na economia. Terá de fazer ajuste fiscal para impedir que a dívida pública do país siga crescendo. Isso significa, basicamente, cortar despesas e/ou elevar tributos, medidas que costumam retrair a atividade econômica. Com a economia fora do ciclo recessivo desde o início de 2017, mas com grandes dificuldades de crescer, é uma combinação explosiva difícil de desarmar.
– O desafio do próximo governo é bem maior do que todos os anteriores – avalia Aod Cunha, ex-secretário da Fazenda e integrante do conselho de investimento da We Capital, gestora de R$ 3 bilhões em ativos.
O principal desafio é fiscal, avalia Aod, apontando o cenário de dívida elevada, agravada por sucessivos déficits no orçamento:
– Vai exigir não só aumento de carga tributária e contenção de despesas, mas muitas reformas. O próximo governo precisa demonstrar capacidade rápida de execução dessas reformas. E terá de gerir essas reformas no Congresso com uma sociedade muito polarizada e radicalizada, seja qual for
o resultado.
O único e os múltiplos
A coordenação econômica dos candidatos que chegam à eleição com chance de disputar o segundo turno não pode ser mais contrastante. Na equipe de Jair Bolsonaro (PSL), o economista Paulo Guedes, formado em Chicago, já foi indicado até como ministro “da Fazenda e do Planejamento”, ou seja, será o dono e senhor dos destinos da economia. Na equipe de Fernando Haddad (PT), é difícil saber quem dá o tom. Pelo menos quatro economistas respondem pela área – Nelson Barbosa, Marcio Pochmann, Guilherme Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo. Já houve divisões entre eles, enquanto surgiam especulações de que, caso fosse para o segundo turno, Haddad anunciaria um “moderado” para a Fazenda.
Sumiço e esnobada
Depois de criar uma polêmica ao mencionar a recriação da CPMF, Paulo Guedes desapareceu. Como é a referência para todos os temas econômicos, criou um vácuo na campanha. Colegas confirmam que é um desaparecimento deliberado, para não alimentar novos eventuais desgastes para o candidato. Em Porto Alegre, em ato de campanha no Largo Glênio Perez, Haddad disse que, como havia sido aconselhado a fazer um "aceno ao mercado" – o financeiro – estava na capital gaúcha saudando o Público.
Rali e rejeição
O avanço de Bolsonaro nas pesquisas disparou alta nas bolsas, acentuada em ações de estatais, e baixa no dólar. Na sexta-feira, a moeda americana fechou em R$ 3,857. Na semana, caiu 4,46%, a maior baixa nesse período desde março de 2016. Ao justificar a adesão ao candidato do PSL, investidores e empresários não louvam as virtudes individuais de Bolsonaro, mas sua capacidade de derrotar o PT. Uma das frases mais emblemáticas que circulam em cards em redes sociais e em aplicativos de mensagens demonstra a rejeição: "Bolsonaro pode não ser o melhor fertilizante, mas é o melhor pesticida".