Depois da euforia da terça-feira, o dia começou ontem em clima de exuberância irracional no mercado financeiro. O dólar chegou a ser negociado a R$ 3,83 e a bolsa alcançou 85,2 mil pontos, o que não ocorria desde 14 de maio. O patamar ficou muito próximo do recorde histórico, de 87,65 mil pontos, alcançado em 26 de fevereiro passado. A explicação era a mesma do dia anterior: investidores e especuladoras viam na pesquisa de intenção de voto do Datafolha a confirmação do favoritismo do candidato do PSL, Jair Bolsonaro (PSL).
Durante a tarde, porém, o entusiasmo foi moderado. A bolsa fechou em 83,2 mil pontos, alta de 2%, quase a metade do dia anterior. O dólar fechou em R$ 3,888, baixa de 1,2%, também muito abaixo da véspera. O que mais chamou atenção dos analistas foi o volume negociado na bolsa: R$ 18,8 bilhões. Foi o maior valor movimentado em uma sessão neste ano. O máximo atingido antes havia sido de R$ 17,6 bilhões, em 30 de maio.
O aumento é atribuído à maior entrada de estrangeiros no mercado nacional. A origem da perda de fôlego no final do dia não foi nacional. A alta no preço do barril de petróleo, que se aproxima de US$ 100 e o aumento na rentabilidade dos títulos de 10 ano do Tesouro, para acima de 3% ao ano frearam a “exuberância irracional” tupiniquim. A expressão foi popularizada na virada da década pelo então presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), Alan Greenspan. Ele se referia à falta de bases fundamentais para a alta contínua no preço das ações nos EUA.
Em transmissão ao vivo no Facebook, Bolsonaro atribuiu a reação do mercado à confiança em seu “futuro ministro da Fazenda e do Planejamento” – avisou que vai unificar as pastas. A agenda econômica do candidato do PSL segue uma incógnita para a maioria dos agentes econômicos, que aderem à fórmula mais para evitar um mal maior, a volta do PT ao poder. Há divergências públicas entre Bolsonaro e Guedes, desde a profundidade das privatizações até formato de tributação. Além disso, os fundamentos da economia não autorizam tamanho otimismo no curto prazo. É uma grande irracionalidade exuberante.