No dia seguinte à divulgação da mais recente pesquisa do Ibope, com diferença de 10 pontos percentuais entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), o mercado financeiro escancarou sua escolha para a eleição de domingo. O comportamento dos principais ativos que variam diariamente foi absolutamente excepcional e reflete o que os analistas já chamam de “efeito Bolsonaro”.
O dólar caiu mais de 2%, para R$ 3,935 e a bolsa teve alta expressiva, de 3,78%. Essa foi a maior variação positiva desde 24 de janeiro, data da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Além de subir com força, a bolsa alcançou um volume de negociações bastante acima das médias diárias recentes, que oscilavam em torno de R$ 8 bilhões. Ontem, cerca de R$ 16,3 bilhões foram movimentados com a troca de mãos de papéis no mercado.
Ações de estatais foram as que mais subiram. Até a última atualização, as da Eletrobras dispararam 11,4%, as do Banco do Brasil subiram 11,4%, e as da Petrobras avançaram 8,6%. Esse conjunto de papéis é chamado de “kit eleição” no mercado. Quando todas se movem de forma acentuada, para cima ou para baixo, evidenciam o peso de perspectivas eleitorais nas negociações. O comportamento das ações de estatais são considerados um termômetro do humor relacionado à eleição por refletir a expectativa de um governo mais ou menos intervencionista. No Exterior, publicações e instituições respeitadas pelo mercado financeiro advertem para o “risco Bolsonaro”, como já fez a revista britânica The Economist e, mais recentemente, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P). Na segunda-feira, Joydeep Mukherji, analista de ratings soberanos da S&P Global para a América Latina, afirmou que vê em Bolsonaro aumento do “risco de incoerência ou de atrasos em tomar as providências depois das eleições”. O analistas ainda classificou Bolsonaro como um outsider, ponderando que Haddad não se caracterizaria assim. O que é visto como problema no Exterior, no entanto, parece ser vantagem aos olhos de muitos brasileiros.
Na tentativa de explicar a aparente escolha pelo risco, que sempre espantou investidores e especuladores, o economista-chefe da corretora Spinelli, André Perfeito, avalia que dólar e bolsa podem estar refletindo mais a expectativa de derrota de Haddad e de suas propostas de taxação de bancos do que a vitória de Bolsonaro. Conforme o analista, como ninguém conhece os planos de governo do candidato do PSL até agora, especialmente os da área econômica, no momento em que passar a aferir o desempenho do capitão do Exército no governo, o mercado pode se tornar mais cauteloso. No momento em que a chegada de sua equipe ao governo ficar mais delineada, existe a possibilidade de uma revisão no balanço de riscos.