Uma das máximas do mercado financeiro é a de que a incerteza é a grande inimiga de investidores e especuladores. Quando a leitura de cenário envolve pouca previsibilidade, os ativos que variam diariamente costumam tremer, com queda na bolsa e alta no dólar. Diante do quadro eleitoral traçado pelas pesquisas de intenção de voto, que projetam segundo turno polarizado entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), caso a máxima valesse sempre, as reações seriam diferentes das de sexta-feira, a nove dias de uma das eleições mais tensas da história recente. O dólar subiu mais de 1%, mas estacionou em R$ 4,037, muito abaixo do pico recente. A bolsa recuou 0,8%.
Das mesas de operação aos gabinetes de análise, o mercado antecipa um resultado positivo para Bolsonaro. Os dois últimos dias úteis da semana foram fartos de tropeços na campanha do capitão – de divergências internas a investigações sobre a formação de seu patrimônio – que não ecoaram entre investidores e especuladores.
– Há uma aceitação quase bovina do resultado das pesquisas – avalia Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, constatando que a aparente tranquilidade era inesperada.
Bolsonaro não oferece certezas a investidores e especuladores. Ao contrário, desentendimentos com seu coordenador econômico, Paulo Guedes, e com o vice, Hamilton Mourão, geram novas dúvidas ao programa de governo já pouco nítido, especialmente na área econômica. Indagados sobre os motivos da adesão quase incondicional, as respostas variam entre “a direção de direita é algo novo, mas tem riscos” e “Bolsonaro pode não ser o melhor fertilizante, mas é o melhor pesticida”. Para evitar o espantalho representado por candidatos à esquerda, o mercado cede a uma velha inimiga, a incerteza. Abraça o risco do imponderável por temer a ameaça conhecida.
Circulam relatórios citando expectativa de Haddad pragmático-centrista, que se confirmado para a disputa do segundo turno indicaria um ministro da Fazenda comprometido com a responsabilidade fiscal. Um dos nomes especuladores seria o do economista Marcos Lisboa, crítico ácido do governo Dilma e defensor do ajuste fiscal. Um analista de mercado considera o nome melhor do que o de Guedes – tem mais técnica e mais racionalidade. Pondera, porém, que o risco seria repetir a dupla Dilma-Levy, que não funcionou quando a ex-presidente enfim decidiu adotar medidas para corrigir erros.
A despeito das crenças liberais de Guedes, o economista representa mais uma salvaguarda ao passado estatizante e nacionalista de Bolsonaro do que um brilhante formulador de política econômica. Na participação de maior visibilidade até agora, a entrevista à Globonews, mencionou expectativa de obter, com privatização e venda de imóveis cifras ao redor de R$ 1 trilhão, consideradas irreais.