Depois do esforço para mostrar sinais de solidez em um eventual governo de partido pequeno, Jair Bolsonaro (PSL) fez declarações que abalaram a euforia do mercado em relação a sua candidatura.A bolsa fechou em baixa de 2,8% ontem, e o dólar teve alta de 1,4%, para R$ 3,764. Interrompeu sequência de quatro sessões em fortes baixas. Na noite anterior, em entrevista à Band TV, o capitão reformado afirmara que não pretende privatizar "de jeito nenhum" a área de geração (hidrelétricas e térmicas) da Eletrobras, nem o que chama de "miolo" da Petrobras.
O resultado foi uma queda acentuada nas ações das duas companhias. As da Eletrobras, que haviam acumulado alta superior a 30% nos últimos dias,enfrentaram tombo de 9%, enquanto as da Petrobras recuaram 2,8%. As do Banco do Brasil caíram 4,2%. Esses três papéis compõem o chamado "kit eleições", por representarem expectativa de maior ou menor intervenção estatal sobre empresas públicas.
Embora constatem que o "namoro" do mercado com Bolsonaro está em crise, analistas destacam a queda de 3,15% na bolsa de Nova York, referência para o mercado local. Foi o maior tombo em seis meses. Esse baque foi provocado pela valorização dos títulos do Tesouro americano. Dias antes, porém, quando o rendimento dos títulos de 10 anos (T-10) chegara a 3,2%, investidores e especuladores brasileiros ignoraram o sinal, animados com Bolsonaro.
A declaração sobre a estatal do petróleo não é nova, mas Bolsonaro ainda não havia detalhado sua visão sobre a de energia elétrica, apenas expressado restrições ao formato em que o governo Temer havia encaminhado sua venda. Além de afirmar que não pretende "de jeito nenhum" vender ativos de geração, o candidato voltou a expor, na entrevista ao canal de TV, sua visão nacionalista, que dizia ter deixado para trás:
– Quando você vai privatizar, você vai privatizar para qualquer capital do mundo? A China não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil. Você vai deixar o Brasil na mão do chinês?
O Rio Grande do Sul conhece os dois lados do apetite chinês para investimentos em energia. Dois terços da distribuição (estrutura que chega ao consumidor final) no Estado já estão com a chinesa State Grid, dona da CPFL, que controla RGE e RGE Sul. Por outro lado, os da Shanghai Electric chegaram a acenar com investimento de R$ 4 bilhões que acabou não se confirmando.