Enquanto o mercado financeiro vivia um dia tão excepcional que representou novo recorde na bolsa, variações de dois dígitos nas ações de estatais e a menor cotação do dólar em dois meses, o ex-ministro Maílson da Nóbrega seguia recomendando cautela a seus clientes empresariais. A moeda americana fechou ontem em R$ 3,766, menor valor desde 8 de agosto, com queda de 2,35%. Foi a reação do mercado à vitória de Jair Bolsonaro (PSL) no domingo, com percentual de votos que facilita projeções de prevalecer também no segundo turno, no dia 28 de outubro.
– Ninguém pode tomar decisões no campo empresarial com base em entusiasmo ou depressão do mercado. O sonho de qualquer operador é ficar vendido no fim do mundo. Vai morrer, mas ganhando muito dinheiro – brinca Maílson.
A comparação extremada do ex-ministro é uma forma de advertir que o entusiasmo do dia seguinte ao primeiro turno está relacionado à redução do “risco de vitória do candidado do PT”. Na avaliação de Maílson, o programa é “um horror para quem trabalha com risco”.
– O próximo presidente, muito provavelmente Bolsonaro, enfrentará a agenda mais desafiadora da história, ao menos desde a República.
São três os maiores desafios da lista Maílson: evitar a “insolvência fiscal”, tirar a produtividade da estagnação em que afundou na última década e evitar a erupção de crises fiscais em outros Estados, além dos já afetados – Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
E apesar de estar longe de ser petista ou simpatizante, adverte:
– Não concordo que a democracia brasileira esteja sob ameaça, mas até agora Bolsonaro não demonstrou possuir atributos necessários para construir, manter e gerir uma coalizão. Elegeu 51 aliados, mas precisa de uma base de apoio de 350 deputados, 308 para aprovar reformas constitucionais e uma margem de segurança, para lidar com rebeldes.
Maílson lembra que, na história recente do Brasil, presidentes sem apoio parlamentar fizeram mau governo ou caíram.
– Esse o grande desafio para o próximo governo. O que o mercado vê é superficial, reage por raciocínios binários. Estou aconselhando os clientes a não tomar decisões de profundidade antes de ter visão clara de como o governo vai reagir – detalha o ex-ministro.
O prazo para que a situação se defina, avisa Mailson, não é de três semanas, até o final do segundo turno. É de seis meses a um ano.
– Só aí vai ficar claro. É bom se preparar para a volatilidade.