Poucas vezes o Brasil chegou ao segundo turno da eleição presidencial com tanta incerteza sobre o futuro da economia. As dúvidas decorrem, na campanha de Jair Bolsonaro (PSL),
das reticências do dono e senhor da decisões econômicas, Paulo Guedes, formado pela universidade de Chicago, e, na campanha de Fernando Haddad (PT), do grande número
de economistas que têm falado em seu nome.
Um frequentador da Avenida Faria Lima, em São Paulo, coração simbólico do poder econômico nacional, relata que Guedes se reuniu com poucos interlocutores até agora. Desde que uma declaração do economista, em evento fechado, ganhou manchetes desfavoráveis ao candidato, o economista pouco afeito a manifestações públicas se tornou ainda mais arredio. Na visão desse empresário, Guedes é "arrojado e bem cabeça liberal", mas nem ele nem Bolsonaro "são bons de negociação".
– Em um país deste tamanho, é preciso saber achar o caminho de meio termo. Não sei se eles vão conseguir fazer. E aí é que mora o perigo – avalia.
Risco conhecido x Incógnita
No balanço de riscos da atividade produtiva e do mercado financeiro, Haddad é o risco conhecido a ser evitado, enquanto Bolsonaro é uma incógnita que vale a pena ser bancada para evitar um mal maior. Quanto mais os empresários são convocados a explicar suas razões, mais admitem que suas decisões são imprevisíveis. Dados os perfis de Guedes e Bolsonaro – e as divergências que já protagonizaram até aqui – não descartam um "desentendimento definitivo" entre ambos, o que representaria uma incerteza ainda maior, dada a dependência do candidato em relação ao economista para qualquer tema relacionado à área.
– Nenhum deles têm perfil de quem sabe costurar acordos. Acham que não precisarão sentar personagens como Renan Calheiros, por exemplo – afirma o empresário.
A hipótese de Haddad "tucanar" no segundo turno é alimentada pela própria campanha. Assessores do candidato petista circularam por escritórios da elite econômica brasileira acenando, especialmente, com austeridade. A justificativa para seu eleitorado seria baseada na constatação de que o desequilíbrio fiscal não permite a manutenção de programas sociais.
O desafio do apoio
Em uma eleição marcada pela adesão quase unânime do empresariado e do mercado financeiro a Bolsonaro, um dos maiores desafios de Haddad será cumprir com uma das ambições de sua campanha para o segundo turno: tirar da manga um grupo convicente de investidores que apoie publicamente sua candidatura. Até agora, no entanto, o candidato indicado por Lula não fez sequer um esboço do tal "aceno ao mercado" cuja expectativa foi criada pela própria campanha. Ao contrário, até agora só circulam, nos bastidores, promessas de se mostrar mais religioso e ligado à família do que vinha se mostrando até agora. A "esnobada" pode cobrar um preço elevado, especialmente diante da força demonstrada por aliados de Bolsonaro nas eleições proporcionais, que acabaram derrubando as projeções de baixa renovação nas casas legislativas.
Em levantamento que circula no mercado financeiro com consultas a 32 gestoras de investimentos, 17 afirmam contar com a vitória de Bolsonaro no segundo turno. É apenas um levantamento de expectativas, mas indica o peso do candidato do PSL. Essa inclinação, porém, será submetida ao teste de exposição que o segundo turno representa ao capitão reformado do Exército e a seu futuro ministro da Fazenda e do Planejamento – a fusão da pasta já foi anunciada formalmente.
A partir desta sexta-feira, quando recomeça o horário eleitoral na TV, Bolsonaro terá 10 minutos diários para expor e detalhar suas posições para a segurança, a economia, a gestão pública. Será o mesmo tempo do adversário, que por sua vez terá o desafio de conciliar o discurso mais radical mantido ao longo do primeiro turno com algum tipo de conciliação em direção aos donos do dinheiro do país. Ambos terão de explicitar posição sobre temas que, até agora, foram mal esboçados em programas de governo e renderam conflitos entre assessores ou entre o guru e o candidato.