A primeira manifestação pública de Jair Bolsonaro (PSL) após a confirmação do segundo turno ocorreu em um ambiente dominado pelo candidato: uma transmissão ao vivo pelo Facebook. O pronunciamento deu o tom da campanha pelas próximas três semanas: o foco estará em ampliar os votos no Nordeste, única região em que perdeu para Fernando Haddad (PT), em meio a questionamentos à lisura da urna eletrônica.
— O nordestino é tão brasileiro como outro qualquer. No segundo turno, ampliaremos essa vantagem. Restam apenas dois caminhos: o da prosperidade, liberdade, família, o de estar ao lado de Deus (...) ou o caminho da Venezuela.
Inicialmente, ele iria até um hotel localizado próximo à sua casa, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, onde dezenas de jornalistas estavam aguardando para uma entrevista coletiva. No entanto, devido a recomendações médicas, os planos foram alterados.
No vídeo divulgado pelas redes sociais, Bolsonaro estava acompanhado de seu futuro ministro da Fazenda em um eventual governo, Paulo Guedes. Tido como o “posto Ipiranga” do candidato, não falou nenhuma vez nos 14 minutos de transmissão.
O candidato ainda atacou o voto eletrônico, afirmando que sua coordenação de campanha recebeu diversas reclamações de problemas em urnas e que pedirá investigação sobre os casos. Ele desacreditou o sistema de registro de votos:
— Se tivéssemos confiança no sistema eletrônico, já teríamos o nome do futuro presidente na noite de hoje.
Entre ataques ao PT, prometeu acabar com a corrupção e diminuir o tamanho do Estado. Afirmou que, se eleito, privatizará ou extinguirá 50 estatais. Defendeu a manutenção da Operação Lava-Jato e elogiou o juiz federal Sergio Moro. Na área trabalhista, disse que pretende desonerar a folha de pagamento, embora admita que encontrará dificuldades.
Sobre futuros apoios políticos, acenou à centro-direita, embora não tenha adiantado com quais partidos pretende se coligar. Disse que, atualmente, conta com o apoio de cerca de 300 deputados federais, entre eles, os representantes das bancadas ruralista, evangélica e da bala.
Entrevista
No local inicialmente reservado para a entrevista, apenas quatro apoiadores conversaram com a imprensa. Entre eles, estava o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), anunciado como chefe da Casa Civil, caso o capitão reformado obtenha êxito no segundo turno. O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, foi quem respondeu aos jornalistas. A mesa também foi composta pelo presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Nabhan Garcia, e pelo deputado eleito Helio Bolsonaro.
Antes do cancelamento da entrevista coletiva com o candidato, os nomes dos presentes ao evento estavam marcados na mesa principal do evento. O pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus e um dos principais cabos eleitorais junto a evangélicos, estava com lugar garantido, assim como o aliado de primeira hora, o senador capixaba Magno Malta, que não conseguiu se reeleger.
O General Augusto Heleno, que tem forte influência em assuntos de segurança pública, também era aguardado. Além do vice na chapa, General Hamilton Mourão, e da esposa, Michelle, e os três filhos: o senador eleito pelo Rio de Janeiro Flavio Bolsonaro (PSL), o deputado federal reeleito por São Paulo Eduardo Bolsonaro (PSL) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC).
Esquema de segurança no voto
Bolsonaro votou por volta das 9h. Escoltado por agentes da Polícia Federal, permaneceu cerca de 15 minutos na Escola Municipal Rosa da Fonseca, na Vila Militar, zona oeste do Rio. Estava acompanhado de dois filhos, Flávio e Carlos, todos usando colete à prova de balas.
Na saída, o candidato conversou rapidamente com os jornalistas. Afirmou que já conta com o apoio de um grupo de cerca de 300 parlamentares no Congresso, sendo que “grande parte deles de deputados honestos”.
Sobre seu estado de saúde, contou que está se sentindo bem e que considera estar 60% recuperado.
Apoiadores, ambulantes e confusões
Apoiadores de Bolsonaro se concentraram durante todo o domingo em frente ao Condomínio Vivendas da Barra, em área nobre da zona oeste do Rio. De frente para o mar da Barra da Tijuca, o local estava com forte esquema de segurança. Sem conseguir se aproximar da casa do candidato, muitas pessoas registravam sua passagem pelo local em selfies com amigos.
O grande movimento atraiu vendedores ambulantes, que ofereciam camisas e bonecos infláveis com o rosto do candidato, uniformes da seleção e bandeiras do Brasil. As cargas chegavam em caminhonetes e, rapidamente, eram expostas em varais. Os preços variaram de R$ 10 a R$ 50. A procura pelos produtos foi alta.
No início da noite, quando a Avenida Lúcio Costa, que passa em frente ao condomínio, começava a ter o trânsito prejudicado pela aglomeração, houve tumulto com profissionais de imprensa. Um repórter da Rede Globo que se preparava para ir ao ar, teve que deixar o local após ser cercado por militantes. A Polícia Militar, que fazia a segurança na região, acompanhou o caso à distância.
Pouco antes, uma jovem que passeava com um cão pela calçada fez críticas aos apoiadores de Jair Bolsonaro. Sozinha, discutiu com o grupo, antes de ser convencida a deixar o local.