Da arrancada com apenas um dígito nas pesquisas de intenção de voto à vitória de virada no primeiro turno, Eduardo Leite (PSDB) conduziu a campanha se apresentando como o candidato jovem e dinâmico capaz de imprimir um novo ritmo à economia do Estado. No embate decisivo com José Ivo Sartori (MDB) no segundo turno, o tucano pretende repetir a fórmula bem sucedida.
— Vamos debater propostas. Pelo que conheço do Eduardo, ele não vai mudar o tom nem a forma de agir. O importante é se comunicar com a população — diz a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas (PSDB), uma das maiores amigas do tucano.
Em uma rápida entrevista coletiva, concedida na porta de casa logo após a confirmação do segundo turno, Leite sinalizou como será a campanha na próxima etapa. Destacou que quase 70% dos eleitores não votaram em Sartori no primeiro turno, criticou a lentidão do governo nas concessões e disse que pretende buscar novas alianças.
— (A busca por apoios) É uma conversa para os próximos dias. A eleição tem dois caminhos, um que já está posto, está aí, e um caminho novo, alternativo. A população quer mais, quer uma evolução. Então vamos conversar com os partidos que estiveram no primeiro turno.
Leite também reclamou dos ataques vindos de Sartori, a quem atribuiu a divulgação de fake news a seu respeito.
— Infelizmente, no primeiro turno, o candidato Sartori em alguns momentos descambou para a política das fake news. Distorcendo fatos, informações. Nos repusemos a verdade e a população manifestou essa compreensão nos dando a liderança.
O candidato manifestou preocupação com o futuro do PSDB, cujo candidato a presidente Geraldo Alckmin, obteve o pior desempenho da história do partido numa disputa nacional, mas afirmou que não apoia o PT num eventual segundo turno.
— Vou buscar ajudar no processo de renovação e autocrítica do PSDB, acho que isso foi mal conduzido no ano passado. O senador Tasso Jereissati tentou mas houve reações internas. Vamos discutir internamente quem apoiar no segundo turno, mas uma coisa eu garanto: o PT não pode voltar ao poder. É um retrocesso para o nosso país.
Nas últimas semanas, à medida que subia nas pesquisas, Leite foi alvo de ataques crescentes dos adversários. Na véspera da votação, obteve direito de resposta por causa de acusações de Miguel Rossetto (PT). No debate da RBS TV, quarta-feira, ele já havia sido alvejado por Sartori, Jairo Jorge (PDT) e Roberto Robaina (PSOL). Em quase todas as oportunidades, a crítica central era por suposta negligência nas suspeitas de irregularidades nos exames de câncer de colo de útero em Pelotas.
— Claro que, se esses ataques continuarem, ele não vai ficar quieto — avisa Paula.
Segundo alguns dos estrategistas do PSDB, a ordem no segundo turno é reforçar as diferenças entre Leite e Sartori. O objetivo é mostrar o governador como um gestor lento, preso e refém da folha de pagamento dos servidores, cujos atrasos somam 34 meses. Já Leite irá aparecer como um administrador moderno e eficaz, sintonizado com práticas da iniciativa privada.
— A diferença é a seguinte: Sartori se preocupou demais com a pauta fiscal e não fez mais nada. Ele não tem plano de desenvolvimento, demora muito para agir. Até hoje não fizeram uma concessão sequer. Vamos mostrar que o Eduardo tem capacidade de colocar o Estado pra crescer, com muita parceria com o setor privado e baixando os impostos a partir do segundo ano de governo — resume um integrante do staff tucano.
Para a cientista política Elis Radmann, a virada de Leite sobre Sartori no primeiro turno se deve justamente a esta imagem de um governador com coragem e atitude, símbolo de uma nova política projetada por eleitores esperançosos.
— As intenções de voto de Eduardo Leite se destacaram entre todos os tipos de eleitores, mas, preferencialmente, entre a população de menor renda e entre as mulheres, que são as mais esperançosas. Durante todo o processo eleitoral, ele se manteve com uma média de 60% dos votos da região sul e conforme sua campanha crescia, ampliava a sua inserção nas demais regiões do Estado — explica Elis, diretora do Instituto de Pesquisas de Opinião (IPO).
Com sete partidos na coligação e tendo Sartori como adversário, Leite não tem muitas alternativas de aliança no segundo turno. A parceria mais provável, inclusive pela proximidade ideológica, seria com o Novo. Vinculado ao PSDB no passado, Mateus Bandeira tem uma agenda similar a de Leite, embora seja mais radical em questões como privatizações e tamanho do Estado.
O tucano, contudo, não pretende pedir apoio do conterrâneo – ambos nasceram em Pelotas. Buscando o mesmo perfil de eleitor, Bandeira escolheu o ex-prefeito como principal alvo de suas investidas nos debates do primeiro turno. Já a busca de uma aliança com o PDT divide o núcleo da campanha.
— O PT tinha dois candidatos. Um oficial e outro disfarçado — afirma um influente assessor sob o pedetista – Os caras romperam todas as pontes — completa.
Outros articuladores olham para o futuro e pensam na governabilidade do pós-eleição. Paula cita a necessidade de se obter apoio na Assembleia Legislativa para se aprovar as medidas de maior impacto.
— Não somos de guardar mágoa. O apoio é bem-vindo, mas qualquer conversa será feita com base no programa. Podemos aceitar contribuições, sem abrir do nosso projeto — pontua a prefeita.
Após passar a manhã em Porto Alegre, onde votou ao lado do vice, Ranolfo Vieira Júnior e concedeu entrevistas à imprensa, Leite voou para Pelotas no início da tarde. Ele votou no Colégio Assis Brasil, acompanhou o voto de Paula e se recolheu à casa dos pais.
Reunido com a família, amigos e assessores, acompanhou o início da apuração em meio aos instrumentos com os quais costuma promover rodas de samba. Num canto da sala, o surdo. Sobre um dos braços do sofá, um pandeiro. Logo ao lado, um violão e caixas de som. Durante a contagem dos votos, todos permaneceram intocados. O barulho vinha da TV e das conversas entrecruzadas, todas sobre o mesmo assunto: a liderança, do início ao fim, na contagem dos votos.
— Pela nossa vontade, ele não teria seguido essa carreira. Fica exposto à má fé dos adversários, é complicado. Mas logo percebemos que era incontornável. Hoje somos pais entusiasmados. Ele tem firmeza, honestidade e sabe receber críticas. É a têmpera do bom político — emocionava-se o pai, o advogado José Luiz Marasco Cavalheiro Leite.