No derradeiro debate antes do primeiro turno, os dois candidatos que aparecem tecnicamente empatados na liderança das pesquisas ao governo do Estado foram os principais alvos dos adversários. Durante as quase duas horas de confronto na RBS TV, nesta quarta-feira (3), José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) tiveram de responder às cobranças de Jairo Jorge (PDT), Miguel Rossetto (PT) e Roberto Robaina (PSOL).
Os nomes foram definidos conforme critério estabelecido pela legislação eleitoral, segundo o qual é obrigatória a participação dos postulantes cujos partidos tenham pelo menos cinco representantes no Congresso. Ficaram de fora Julio Flores (PSTU), Mateus Bandeira (Novo) e Paulo de Oliveira Medeiros (PCO), que teve registro indeferido mas ainda tenta reverter a decisão na Justiça.
Logo na primeira pergunta do bloco inaugural, Miguel Rossetto (PT) mirou em Sartori, citando o slogan de campanha do governador, segundo o qual o “Rio Grande está no rumo certo”:
— Como pode 500 mil desempregados estar certo, professores com salários atrasados estar certo?
Na resposta, o emedebista disse ter procurado “arrumar a casa”. Citou iniciativas como a redução dos juros da dívida com a União e criticou a gestão do PT que o antecedeu.
— Nosso oponente questiona e pergunta como se tudo fosse terra arrasada. Recebemos uma herança que não nos permitiu sequer fazer um empréstimo – afirmou.
Na sequência, o governador seria alvejado ainda por Jairo e Robaina. O pedetista citou a suposta ineficácia do aumento da alíquota de ICMS em 2015 e da suspensão do pagamento da dívida, lembrando que os servidores seguem recebendo salários com atraso, enquanto o socialista reclamou das desonerações fiscais e da sonegação de impostos.
Leite, que começou sua primeira fala citando a liderança nas pesquisas, protagonizou o momento tenso. Ao ser cobrado por Robaina pela denúncia de irregularidades nos exames de câncer de colo de útero em Pelotas, leu trechos de uma decisão judicial que já o havia concedido direito de resposta por causa da mesma acusação.
— Não falte com a verdade – disse o tucano, subindo o tom de voz.
— Tu tem que parar de tirar o corpo fora, parar de atuar como teu líder político Aécio Neves — revidou Robaina.
Não tardou a Jairo invocar o mesmo tema. Indicando diversas oportunidades em que a prefeitura teria sido alertada sobre problemas nos exames, perguntou as razões para a demora na averiguação das irregularidades. Leite pediu aos telespectadores para conferir sua explicação em uma rede social, disse que não tinha como detalhar todo o caso em um minuto e meio, mas lembrou que o laboratório prestava serviços à prefeitura desde 2000.
— Estão me atacando porque lidero as pesquisas — reagiu.
— Não estou lhe atacando, estou lhe dando oportunidade de esclarecer — rebateu Jairo.
Pouco antes, houve novo embate entre PT e MDB. Ao falar sobre privatizações, Rossetto investiu contra o governador, dizendo que o adversário provoca recessão ao vender estatais.
— Vou arrumar essa bagunça que o senhor fez no Rio Grande do Sul.
—Acho que o Rossetto às vezes acredita nas palavras que ele diz — rebateu o governador.
No fim do bloco, Robaina voltou à carga. Ao falar sobre educação, questionou Sartori sobre o décimo-quinto lugar dos estudantes gaúchos no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e a baixa remuneração dos professores. Sartori ressaltou as dificuldades financeiras e disse que os eleitores conhecem a realidade das contas públicas:
— Vamos respeitar as pessoas que estão acompanhando esse debate.
A tensão dentro do estúdio contrastava com o ambiente descontraído de antes programa. Numa sala ao lado do estúdio, era comum os antagonistas, assessores, candidatos ao Senado e marqueteiros reunidos em animadas rodas de bate-papo. Rossetto comia canapés enquanto Robaina era maquiado pela ex-mulher Luciana Genro. Sartori que levava uma fita do outubro rosa na lapela, abriu um sorriso ao ver o petista vestindo traje completo.
- Que bom que tu também veio de terno – disse ao adversário, diante da informalidade desprovida de gravata dos demais candidatos.
O esperado embate entre os dois líderes nas pesquisas veio no terceiro bloco. Leite, que havia se limitado a um protocolar aperto de mãos com o governador antes do debate, foi cobrado por Sartori pela oposição ao plebiscito para privatização de estatais.
— Lamento que por razões eleitoreiras você ficou com o PT. Não se governa com marketing – disse o emedebista.
Leite reagiu dizendo que Sartori tentou encurtar o tempo de discussão com a sociedade e queria tirar proveito ao mesclar a campanha do governo do Estado com a consulta à população sobre a privatizações da CEEE, CRM e Sulgás.
— Não venha acusar a mim o que o senhor acabou fazendo como eleitoreiro — respondeu Leite.
Ao ver os dois discutindo, Robaina lembrou que PSDB e MDB foram aliados até pouco tempo. Durante o debate, o socialista fez dobradinha com Rossetto, permitindo que apresentassem propostas e criticassem os adversários.