Desde a reta final do primeiro turno da eleição presidencial, há especulações sobre um eventual “aceno ao mercado” do candidato Fernando Haddad (PT). Mais por rejeitar o programa petista do que por grande entusiasmo com os sinais ambíguos de Jair Bolsonaro (PSL) e seu guru econômico Paulo Guedes, investidores e especuladores têm reagido com alívio – e até euforia – ante avanços do capitão reformado.
Até por isso, surpreendeu que o “aceno ao mercado” tenha vindo do PSL, com listas para cargos em um eventual governo. Começaram a circular nomes para o ministério (Educação, Saúde, Transportes) e para rechear a equipe econômica, que será comandada por Paulo Guedes. A iniciativa é atribuída ao fato de o PSL não ter nomes técnicos que pudessem ser naturalmente cogitados para os cargos.
São profissionais próximos a Guedes, como Alexandre Bettamio, presidente-executivo para a América Latina do Bank of America, e Sergio Eraldo de Salles Pinto, da Bozano Investimentos (gestora de investimentos presidida por Guedes). Também são cogitados nomes como Maria Silvia Bastos Marques, presidente-executiva da Goldman Sachs no Brasil e ex-presidente do BNDES, e Roberto Campos Neto, diretor do Santander e com o nome do avô, renomado economista liberal.
Apesar de Haddad ter se apresentado como integrante da “social-democracia” na entrevista ao Jornal Nacional da última segunda-feira, não fez concessões adicionais ao discurso mais duro que vem marcando sua campanha. Ao mencionar reformas, apontou apenas a tributária e a política, embora em outras entrevistas já tenha admitido a necessidade de reforma da Previdência.
A expectativa de que anunciasse um ministro da Fazenda comprometido publicamente com o ajuste fiscal – relativizado pelo candidato no programa e em entrevistas – não se confirmou.
– Talvez ele não faça aceno ao mercado mesmo. O mercado não quer o bem do Brasil, quer o seu próprio e dos grandes investidores. A campanha não tem de se pautar pelo mercado – afirmou à coluna Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) que tem colaborado em pontos específicos da campanha petista.
Depois da euforia da véspera, o mercado financeiro não teve reação abrupta ontem ao aceno de Bolsonaro e à falta de gesto por parte de Haddad. O dólar caiu 1,5%, para fechar em R$ 3,71, por efeito externo, enquanto a bolsa marcou passo, sem qualquer variação ante o dia anterior.