À primeira vista, quem percorre ruas e estradas da Holanda pode supor que os prefeitos são negligentes na capina de canteiros e outras áreas públicas. Mas o matagal que cresce ali neste início de verão não é fruto do descaso, e sim parte de uma tendência conhecida como naturalização da paisagem, que busca recriar, em ambientes urbanos, condições mais próximas das vegetações nativas.
O que isso tem a ver conosco? Muito, se levarmos em conta as intervenções humanas dos últimos séculos, em que fomos cedendo ao desmatamento, à erosão, ao assoreamento de rios e à redução da permeabilidade dos solos nas cidades. Não é preciso ser cientista para constatar que, sem penetrar no chão ou sem ter por onde correr de forma adequada, a água da chuva vai reclamar outros territórios.
O mato não avança de forma desordenada em algumas das mais bem cuidadas cidades europeias. Sob supervisão de biólogos e paisagistas, sementes de flores e arbustos frutíferos substituem gramados aparadinhos, canteiros imaculados e o concreto para atrair e alimentar pássaros e espécies nativas, além de dar alento a abelhas e à crucial polinização.
No Brasil, a tendência também começa a ganhar espaço. Boa parte das margens da famosa Lagoa Rodrigo de Freitas está sendo naturalizada. Ainda neste mês será licitada uma segunda área, com 485 metros quadrados e alagamentos seguidos, para servir de habitat para animais e berçário de plantas. O Rio, aliás, anda na vanguarda da criação e manutenção de áreas verdes. Na semana passada, um parque de 7,6 hectares com o conceito de esponja para as chuvas foi inaugurado em uma antiga área do Exército no empobrecido bairro de Realengo. Com a nova cobertura verde, espera-se também uma queda na temperatura do entorno.
Em Porto Alegre, a criação de parques públicos distantes da orla pouco tem avançado. Uma das exceções deve ser creditada à iniciativa privada, que entregou o Parque Germânia, com vegetações nativas preservadas, como parte da contrapartida de um empreendimento imobiliário. Morar próximo a áreas verdes, aliás, está deixando de ser um privilégio para virar corrente majoritária na Holanda e na Escandinávia, onde a maioria da população já vive a menos de um quilômetro de um parque, com impacto nas saúdes física e mental.
Não somos a Europa e provavelmente nunca seremos, mas ela pode servir de inspiração para a solução de problemas que têm saída. Uma ideia simples e barata para tornar nossas cidades menos quentes e desestimular as pichações seria plantar trepadeiras em paredes e muros urbanos para formar cortinas verdes. Algumas cidades já estão lá na frente. É só copiar.