Cada cidade atingida pelas águas de maio está diante de uma encruzilhada que vai moldar nosso futuro. Dependendo do que for feito, e como, poderemos regredir décadas ou dar um salto na qualidade de vida. Levando-se em conta que os próximos cinco anos serão os mais decisivos de nossa história, as campanhas eleitorais serão cruciais para determinar essa trajetória.
Para reduzir a margem de erro, deve-se aprender com cidades arrasadas por guerras, como Varsóvia, Roterdã e Berlim, ou por cataclismos naturais, como Kobe, no Japão, e Nova Orleans, nos EUA. Nelas, não apenas se reconstruiu o que foi destruído. Gestores visionários e sociedades calejadas pela catástrofe reergueram, sim, o que bombas, terremoto e água devastaram, mas também foram além. As cidades refizeram seus monumentos e prédios históricos, plantaram novos parques e praças, modernizaram sistemas de transporte e empregaram bons materiais e as melhores técnicas de engenharia em cada obra a favor do bem-estar coletivo.
Diante do desafio ainda urgente de se recuperar serviços básicos, é uma temeridade consumir-se energia agora em discutir candidaturas extemporâneas. Mas ali diante estaremos diante das escolhas locais mais relevantes da nossa geração. Não faltarão candidatos demagogos, oportunistas, mesquinhos ou medíocres (aliás, já começam a despontar aqui e ali). Bastará um erro coletivo, porém, para fazer desandar todo o extraordinário esforço de união e colaboração de que temos participado há seis turbulentas semanas.
O perfil de quem pretende capitanear a recuperação das cidades em calamidade deveria ter alguns contornos prioritários. O primeiro seria o de apresentar um plano de reconstrução ao mesmo tempo inovador, ousado e, sobretudo, factível. Os projetos devem mirar a qualidade de vida e os sistemas de proteção dessas cidades ao menos até o fim do século, a começar pelos cuidados e ampliação de áreas verdes para servirem como esponjas.
É salutar, também, desconfiar de candidatos que farão campanha pelo retrovisor ou com os dedos apontados para terceiros, apostando em fraturas adicionais de sociedades já traumatizadas. Aliás, que se votem apenas em candidatos que tenham o descortínio de garantir que não importa quem seja o ungido pelas urnas, diante da dimensão da tragédia, não trabalharão para sabotar o plano de reconstrução do eleito.
Adicionalmente, os líderes da recuperação deverão ter capacidade de se entender com diferentes correntes políticas, aptidão para capturar recursos onde estiverem– do setor privado ao Exterior – e obsessão por fazer as coisas acontecerem. Em suma, será a hora desses líderes, seja em cidadezinhas ou metrópoles, pensarem grande e, principalmente, agirem com a grandeza que o futuro exige.