O futebol está pronto para receber as mulheres? Se não está, ele que se vire, e rapidamente. Porque elas chegaram. Faz tempo. Nesta sexta-feira (8) do Dia Internacional da Mulher, queria aqui convocar essa bolha com quatro linhas a colocar a cabeça para fora dela e refletir sobre a participação feminina e a influência positiva que isso traz.
Poderia abordar por vários vieses: o crescimento do futebol feminino, com jogos batendo recordes de público; o aumento em progressão geométrica da presença das mulheres na arquibancada (o Inter tem 25% do quadro social composto por mulheres, o Grêmio quase 20%, por exemplo); o lugar de destaque que elas começam a ganhar no campo (a árbitra Fifa Edna Alves é um exemplo) e fora dele (Leila Pereira comanda o Palmeiras e tem voz forte nas reuniões de clubes).
Qualquer desses ângulos oferece pontos ricos para serem abordados. Porém, o que quero trazer aqui é um ponto em que ainda estamos perdendo de goleada, o respeito às mulheres, à sua liberdade, à sua individualidade. os estádios estão longe de ser locais 100% seguros para elas. Na verdade, neste Brasil ainda amarrado às raízes de uma sociedade patriarcal, nenhum lugar é 100% seguro para as mulheres. O futebol, sempre é bom lembrar, é um estrato da nossa sociedade.
Tenho para mim que o futebol desconhece a potência que tem para liderar transformações e avanços sociais. A paixão que o brasileiro tem por esse esporte faz dele uma caixa de ressonância poderosa. Para o bem e para o mal. Por isso, me incomoda a falta de engajamento dos clubes muitas vezes e a falta de conexão com a realidade em alguns momentos.
O caso Cuca é um exemplo. Na semana do Dia da Mulher, o Athletico-PR anunciou o técnico que tem tatuado em sua trajetória o caso de estupro de uma adolescente de 13 anos em Berna, em 1987. Aqui um parênteses, não defendo que Cuca seja alijado para sempre do futebol, afinal, tem direito à reinserção. O que cobro é uma postura diferente dele, que nega o envolvimento em vez de levantar uma bandeira contra a violência sexual. Cuca teve a sentença anulada em janeiro, e o caso foi arquivado. Porém, isso foi insuficiente para convencer torcedoras do Athletico-PR. Muitas protestaram nas redes. E foram ameaçadas por contas fakes, conforme noticiou o site UmDoisEsportes. Algumas, ameaçadas de estupro caso repetissem protestos na Ligga Arena.
Em Porto Alegre, o sujeito que veste a roupa de mascote do Inter teve uma segunda denúncia por importunação sexual cometida no Gre-Nal. Uma torcedora diz ter sido assediada ao pedir para tirar uma foto com o mascote! Ele foi afastado pelo clube até o final das investigações. É preciso ser enérgico. O clube que tem um quarto do quadro social formado por mulheres não pode tolerar que seu mascote provoque medo nas mulheres. No Rio, uma jovem denunciou em suas redes ter sido beijada à força por um homem na comemoração de um gol do Vasco, em São Januário. No Nilton Santos, uma torcedora reclamou ao ter sido atingida por um copo e levou um soco de um homem, na quarta-feira (6).
Esses casos listados aqui só mostram que ainda há um longo caminho pela frente. Como a nossa sociedade. Mas é bom que acelerem o passo. Porque futebol é coisa de mulher. Quem não entender isso, por favor, que tome a portão de saída.
Feliz Dia da Mulher!