Fábio Pizzamiglio terá uma virada de ano para comemorar. O Juventude, dono da menor folha do Brasileirão, conseguiu seu troféu, a permanência na Série A, onde as cotas são melhores e ajudam a manter o processo de crescimento do clube. Mas não foi só isso. O Juventude precisou trocar duas vezes de técnico, com Carpini e Roger, como pagamento pelo seu sucesso. Ao fim, o vice gaúcho, as quartas da Copa do Brasil e a permanência na elite, a um ponto da Sul-Americana, são provas de que o trabalho foi bem feito. Pizzamiglio já está de mangas arregaçadas para ir além em 2025, como me disse nesta entrevista. Confira abaixo a conversa com o presidente do time da Serra.
O balanço do ano faz o presidente brindar ainda mais o Natal?
O balanço é muito positivo, apesar dos momentos que eram mais de dúvida com o Jair (Ventura), o momento do Gauchão, antes da fase dos matas. Se formos avaliar o ano inteiro, foi positivo, sim.
O desafio maior da temporada foi se reinventar a cada saída de técnico, duas delas por interesse de outros clubes?
É complicado, cada troca de técnico, sabemos que há mudança de trabalho. Por mais que tivemos técnicos de filosofias parecidas, sempre se reinicia tudo.
Mas o clube deu uma lição de como agir no mercado diante de perdas de nomes que estavam encaixados, como Carpini e Roger.
Tentamos sempre ter análise pronta de técnicos, ter uma carta na manga. O problema da perda do Carpini nos acendeu o alerta antes da ida para o São Paulo, quando foi sondado pelo Santos. Ficamos com o pé atrás já ali. Mantivemos sempre uma base de dados de, no mínimo, seis técnicos, que são monitorados sempre. O Fábio Mathias era um que estávamos monitorando já lá atrás. Técnico tem de encaixar, por melhor que tenha sido o trabalho feito no passado.
Mantivemos sempre uma base de dados de, no mínimo, seis técnicos, que são monitorados sempre.
O Fábio Mathias segue, mas o grupo passará por reformulação. Qual o grau dessa mudança de fotografia?
Cerca de 30% a 40% de atletas, teremos de substituir. A maioria, por que recebeu proposta muito superior. Algumas negociações estão difíceis. O Gabriel está complicado, provavelmente não teremos alcance financeiro.
O Juventude tem como perfil potencializar jogadores que vêm por empréstimo, mas não resultam receita. Neste ano, Lucas Barbosa e João Lucas, por exemplo. Isso não incomoda?
O João Lucas ainda há possibilidades remotas, mas o Santos deve conseguir negociação para ele. Trazemos jogadores desse perfil e sabemos que pode acontecer isso. Um dos motivos é de termos essa vitrina. O Juventude se coloca como clube de passagem, não é problema para nós. Sabemos do nosso tamanho.
Isso faz com que o clube projete receitas menores de vendas no orçamento?
Temos no nosso orçamento R$ 5 milhões baseados em vendas, em um universo de R$ 100 milhões. Elas acabam acontecendo, são meninos da base ou algum jogador que seja nosso e conseguimos negociar.
Quantas contratações, nessa reformulação, precisarão ser feitas?
Cerca de sete, oito nomes. Essa base tem de ser formada até o início do Gauchão, cada vez mais difícil. Neste ano, será assim, a janela foi reposicionada, indo até o final de fevereiro e reabrindo, para 10 dias, em junho. Precisaremos ter o grupo mais completo na largada.
Que posições serão buscadas?
Um goleiro, dois laterais, extremas e atacante. O meio-campo está pronto.
O Nenê é um caso de jogador que encaixou nesse momento de crescimento do clube. Haverá renovação com ele?
— Estamos conversando, temos de ver se ele quer continuar. Provavelmente, sim. Ele se mantendo em atividade, vamos fazer um contrato diferente. Temos de sentar e ver com ele.
Não conheço nenhum jogador igual (ao Nenê. Pelo nome que tem, é sempre muito simples, solícito.
Qual é a importância dele no atual contexto do clube, pelo engajamento que tem?
Nenê tem uma força muito grande dentro do grupo e fora também. É um ídolo do clube. Sempre bom tê-lo por perto. Essa energia que passa é importante. É um jogador diferenciado, por onde passa, consegue fazer diferente. Ele atende a todos, está sempre disponível. Não conheço nenhum jogador igual. Pelo nome que tem, é sempre muito simples, solícito. Ajuda essa capacidade de agregar.
Como ficou o acordo do Juventude com a LFU e qual o destino que dado ao dinheiro?
Devolvemos metade. Ou seja, recompramos 10% dos 20% vendidos. Neste ano, investimos nosso valor, que foi de R$ 90 milhões para R$ 45 milhões. Esse dinheiro é administrado pelo Conselho de Administração, não faz parte da receita com a qual trabalha a direção executiva.
O valor foi investido em que estrutura?
No CT, estamos construindo o sétimo campo, finalizando a área do departamento de futebol, serão mais 1.200 metros quadrados de área construída, para fazer a nova academia, a fisiologia, o departamento médico, o refeitório, o auditório. O nosso departamento de futebol está se transferindo para esse prédio novo. Para você ter uma ideia, parte da nossa academia estava dentro da área coberta dos campos. A parte de piscina, banheira de gelo não estavam bons. Fizemos tudo novo. O vestiário aumentou. No começo de 2025, começaremos usando a metade que está pronta. Em março, tudo estará 100%. Esse trabalho não aparece para a torcida, mas é fundamenta para se manter em alto nível.
O Juventude tem de errar menos, apostar mais em jogadores da Série B, ficar atento não aos jogadores que são óbvios.
Como sobreviver em um Brasileirão no qual o seu orçamento é um terço do quem por exemplo, o Botafogo gastou em reforços?
A distribuição dos direitos de TV ficará um pouco mais igual, o que faz muita diferença. O Juventude tem de errar menos, apostar mais em jogadores da Série B, ficar atento não aos jogadores que são óbvios, mas àqueles que poucos estão vendo. É errar pouco, é aquela aposta e não pode errar nela. Se errar, tem de ficar abraçado até o final do ano. O pessoal de scout é bom, o Julio Rondinelli, nosso executivo, também. Nosso pessoal ajuda. Está funcionando bem, mas futebol é perigoso. Tudo muda de uma hora para outra.
Por fim, qual o orçamento para 2025?
Nós tivemos em 2024, receita de R$ 100 milhões. Patrocínios e também quadro social aumentaram, tivemos alguma receita de venda de jogador. Esse mesmo valor, colocamos no orçamento de 2025. Mas projetamos que a Liga Forte aumentará o valor da TV.