A tendência é de que a passagem de Fernando Diniz pela Seleção seja rápida, uma transição até a chegada de Carlo Ancelotti. Mas, apostem, mesmo que se confirme a chegada do italiano em julho de 2024, já terá sido tempo suficiente para Diniz colocar o futebol brasileiro para pensar. Psicólogo de formação, autoral na forma de colocar seus times em campo e dono de posições que batem de frente com o pensamento vigente no ecossistema da bola, o novo técnico da Seleção mostrou na entrevista de quase uma hora o quanto pode ser valiosa sua passagem pelo cargo.
Primeiro, pelo modelo de jogo, pela ruptura de certos dogmas já amarelados que vigem nos nossos times e em muitas cabeças que, hoje, abastecem o futebol com ideias com prazo de validade já vencido. Quem sabe tenha chegado a hora de, com o selo da Seleção, abandonarmos frases prontas e olharmos que o jogo mudou na mesma velocidade do mundo. Diniz mostra em seus times que o jogo é jogado, e não apenas brigado. Que a melhor defesa é ter a bola e ditar, com ela, os rumos de uma partida. Que um jogador, mesmo sem a brilhatura de um craque, pode ser potencializado se a ele for concedida a oportunidade de se desenvolver e ter alimentada a sua autoestima.
Segundo, e mais importante, pela defesa do processo e não apenas do fim. Diniz tocou na entrevista coletiva em uma ferida que norteia o futebol brasileiro e está na raiz do insucesso dos clubes e também da Seleção. Vivemos no império do resultado, e isso nos corrói de dentro para fora. Nada vale se a bola bater no poste e sair. Toda a construção feita antes do lance capital é jogada no lixo. Não se trata de falta de apreço pela vitória, como ele mesmo ressalvou. Todos envolvidos em um esporte de elite são movidos pela competição e pela vitória. Só que, no futebol, tudo é descartado caso ela não venha.
Diniz citou, como exemplo, a queda para a Croácia na última Copa. O gol sofrido a quatro minutos do fim, seguido de derrota nos pênaltis, cruficicou todo o trabalho de Tite. Um trabalho de nível tão alto, com processos tão bem desenvolvidos, que a CBF demorou seis meses para encontrar um sucessor. Na verdade, precisou de dois, já que o eleito só deve vir em julho de 2024. "É um desejo infantilizado de achar sempre um vilão e um herói", disse Diniz, o técnico transitório que pode ajudar o futebol brasileiro a pensar como adulto.