No final do século 19, René Coulon ficou conhecido pela produção de um pó capaz de matar mosquitos, pulgas, percevejos, baratas e outros insetos. Em Caxias do Sul, cultivava piretro (hoje classificada como crisântemo), planta com uma bonita flor. Com o vegetal, fabricava o inseticida. Em 1885, a Drogaria e Fharmacia Franco-Brazileira, em Porto Alegre, anunciava em jornal o "maravilhoso pó inseticida" que não era nocivo à saúde das pessoas e poderia ser colocado até no quarto de crianças.
A empresa Jouvin e Metzger, que se apresentava como único agente em todo o Império, publicou que Coulon conseguiu aclimatar na colônia de Caxias o "arbusto das planícies da Ásia", com propriedade de afugentar e destruir esses "malditos insetos". Coulon era francês e trouxera as sementes quando veio ao Brasil, onde patenteou o inseticida. A fama do produto gerou uma disputa judicial.
O Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul (APERS) resgatou o processo de plágio intelectual. René Coulon declarou que Carlo Bacardi premeditou e efetivou o "roubo da receita" do inseticida. O réu foi acusado de colocar pessoas para trabalhar na casa de Coulon, entre 1897 e 1898, com objetivo de pegar a receita e sementes de flores que eram utilizadas como matéria-prima.
Com a fórmula e as sementes em mãos, Bacardi fez as próprias plantações e produziu o inseticida falsificado. O novo produto foi chamado "Pó de Mosquito" de Perottoni & Irmão. A produção do pó plagiado ocorreu entre 1898 e 1902. O material foi vendido em diversos locais, sendo a maior parte na casa de negócios João Meyer Junior, em Porto Alegre.
Em novembro de 1899, um grupo de produtores da flor em Caxias publicou nota assinada no jornal A Federação defendendo Coulon, que trabalhara 25 anos no desenvolvimento da produção. O texto alertava que as latinhas originais eram maiores do que as "dos imitadores". Depois de perder vendas, em 1901, Coulon buscou o judiciário.
Pelo processo arquivado no APERS, está constatada a culpa do réu, que foi condenado a pagar uma indenização, por causa do lucro obtido em cima da fórmula roubada de René Coulon.
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