Orelhano é uma expressão tradicional do Rio Grande do Sul para designar o gado solto no campo, sem marca do dono. Com o tempo, ganhou derivação para falar do homem que vive nestas terras da América do Sul, sem preocupação com cercas ou fronteiras entre os países. Na música nativista, Orelhano faz sucesso na voz de Dante Ramon Ledesma. O autor foi o médico e compositor Mário Eleú Silva, que morreu no último domingo em Santa Maria.
A origem da expressão se mistura com a história gaúcha. O padre jesuíta Cristóbal de Mendoza Orellana fundou a redução de São Miguel Arcanjo em 1632. Com a necessidade de mais carne para alimentar tantos índios, decidiu buscar bovinos. Viajou até as estâncias na região de Buenos Aires em 1634. O pesquisador e escritor José Roberto de Oliveira considera o padre Orellana o primeiro tropeiro do Rio Grande do Sul, responsável pela introdução do gado e do churrasco, feito em espetos pelos guaranis. Os animais foram levados para São Miguel e as outras 17 reduções da primeira fase do trabalho de jesuítas com os indígenas no lado de cá do Rio Uruguai.
O problema é que as reduções jesuíticas sofreram muito com os ataques dos bandeirantes, que buscavam índios para escravizar. Em 1639, nenhuma das 18 reduções continuava em atividade no território do atual estado do Rio Grande do Sul. Quem escapou dos bandeirantes foi viver no outro lado do Rio Uruguai. E o gado? Ficou solto, sem dono, em uma imensidão de campo.
Os jesuítas só voltaram a construir reduções no lado de cá em 1682. O gado se multiplicou nos campos. A carne alimentou os povos que, aos poucos, foram se aquerenciando nestas bandas nos séculos seguintes. O gado solto, sem marca, até hoje é conhecido como orelhano, termo herdado do padre Orellana.
O religioso, filho de espanhóis e nascido na Bolívia, foi morto por índios em 1635 na região do Campo dos Bugres, atualmente Caxias do Sul.
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