Que o presidente da República dá sinais de inabilidade política e falta de responsabilidade no enfrentamento à crise provocada pelo coronavírus não é novidade. Em meio ao expressivo e crescente número de mortes causadas pela Covid-19, Jair Bolsonaro já disse não ser coveiro e soltou um repugnante "e daí" quando questionado por jornalistas sobre as milhares de vidas perdidas. Nesta quinta-feira (30), porém, mostrou que não está disposto a encerrar seus movimentos bruscos e reações duvidosas. Ao deixar o Palácio da Alvorada rumo ao Rio Grande do Sul, o presidente elegeu um novo inimigo. E, sublinhe-se, não é a pandemia.
Em conversa com repórteres na saída de sua residência oficial, Bolsonaro mirou no ministro do STF responsável por anular a nomeação do novo-diretor geral da Polícia Federal Alexandre Ramagem. E disparou:
- Como é que o senhor Alexandre de Moraes foi para o Supremo? Amizade com Michel Temer - provocou.
Ainda que com novo alvo, a estratégia do presidente não é nova. Eleger um inimigo em meio às próprias trapalhadas e jogar apoiadores contra ele faz parte do jogo político da família Bolsonaro. E o cardápio é diverso. Vai do comunismo a ex-juiz da Lava Jato, passando pela ciência, Marielle Franco e o Jornal Nacional. O importante é eleger um adversário e jogá-lo aos leões. As redes de ódio se encarregam do resto. Afinal, ele é Messias mas não faz milagre.
Ao atacar o ministro do Supremo que contrariou uma nomeação feita por ele, Bolsonaro em nada contribui para a construção de um cenário menos turbulento em que a prioridade deveria salvar vidas de milhões de brasileiros. Faltam leitos nas UTIs, não há respiradores suficientes, corpos são enterrados em valas comuns. Não é suficiente? Tenha juízo, presidente. O Brasil precisa de responsabilidade. De ações que evitem um caos ainda maior. Governe. Ou, se for pedir muito, pelo menos não atrapalhe.