Com sete mil mortes pela Covid-19 na conta, o Brasil celebrou de maneira inovadora o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa neste domingo (3). Com murros, chutes e socos em jornalistas que cobriam, em Brasília, uma manifestação a favor do presidente da República e contrária a instituições como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional. O presidente? Não deixou por menos. Em frente ao Palácio do Planalto, achou por bem saudar apoiadores da volta da ditadura e reforçar o ódio de contra uma emissora de TV. Encheu o peito para dizer que a TV Globo só diz besteira e desta vez foi "longe demais".
E haveria de ser diferente? Não é de se estranhar postura autoritária e grosseira por parte de uma autoridade que se diz "Messias", mas não operador de milagres. Enquanto corpos estão sendo empilhados em valas comuns no Amazonas, o presidente da República dispara contra inimigos dispostos em um cardápio diverso: vai do comunismo a ex-juiz da Lava Jato, passando pela ciência, Marielle Franco e o Jornal Nacional. Ataques covardes a profissionais de imprensa, portanto, são apenas mais uma etapa desse show de horrores. Talvez, sintomas de uma "gripezinha". Quer que eu faça o quê?
Ocorre que para além do perfil agressivo e descontrolado de um chefe de Estado, Jair Bolsonaro tem demonstrado, em doses homeopáticas de aparições e falas, seu desapreço por algo extremamente caro a qualquer nação séria e preocupada com o bem-estar de sua população. Democracia. O presidente reforça diariamente seu descompromisso com as instituições, ao atacar a Suprema Corte, o Legislativo, a liberdade de imprensa. O deboche vem a galope. E não há motivos para rir.
Os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, no recente e necessário Como As Democracias Morrem, constroem um panorama muito interessante sobre a postura de chefes de Estado legitimamente eleitos, que se travestem das regras para camuflar institutos de verdadeiros líderes antidemocráticos. Característica comum a eles? Tolerância ou encorajamento à violência. Alertam os professores de Harvard, inclusive, para o uso desta violência como elemento propulsor de colapsos democráticos. Qualquer semelhança com a realidade brasileira não é mera coincidência. Mais do que nunca, tem que ver isto daí.