O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes dividiu com os apresentadores do programa Timeline, da Rádio Gaúcha, sua avaliação sobre a crise instaurada no governo após a demissão do ministro Sergio Moro do governo Bolsonaro. A saída do ex-juiz federal gerou, inclusive, a abertura de inquérito determinada pelo decano do STF Celso de Mello - a partir de declarações que sugeriram interferência política do presidente da República quanto à demissão de Maurício Valeixo e a escolha de Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Federal.
Na conversa, o ministro Gilmar Mendes não escondeu sua desaprovação quanto às condutas do que chamou de a "turma de Curitiba". Ele já havia dito, também em entrevista ao Timeline, que a Força-Tarefa da operação Lava-Jato passara dos limites em diversas circunstâncias. E chegou a subir o tom ao classificar a conduta de procuradores como "organização criminosa" e cobrou forte uma atuação da corregedoria do Ministério Público Federal.
Sobre este ponto, narrou o seguinte episódio, durante a entrevista que foi ao ar na manhã desta sexta-feira (1).
Certa vez, conversava com o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, que lhe contara como tinha sido a decisão de convidar o juiz da 13a Vara Federal de Curitiba para assumir o Ministério da Justiça e Segurança, no governo eleito de Jair Bolsonaro. Moro, na ocasião, já havia aceitado o convite e se tornara colega de Guedes. Mendes é muito consultado em Brasília por autoridades de diferentes segmentos, por ser um magistrado da Suprema Corte, claro, mas também por se tratar de um ministro com apurada leitura política dos fatos, já que fora Advogado Geral da União no governo Fernando Henrique Cardoso. Gilmar já havia, aquela altura, criticado a conduta das autoridades do Paraná. Mas respondeu:
- (Ao indicar Moro), o senhor estará dando uma grande contribuição para o Brasil - sentenciou.
Ao que Paulo Guedes mostrou alguma desconfiança, gerando certo suspense no ar. Com serenidade e uma dose aguda de ironia, Mendes então emendou.
- Sim, uma grande contribuição, ao tirá-lo da Vara de Curitiba - finalizou.
ouça a entrevista completa:
Lava-Jato
Na entrevista, o ministro também expôs um posicionamento sobre como a operação conduzida por Sergio Moro pode ter contribuído para o cenário atual. Ele afirmou considerar a lava-jato como a "mãe do bolsonarismo", e que é necessário ter mais cautela para a análise de todas as informações que ainda serão trazidas pelo ex-ministro da Justiça.
As escolhas de Moro, de acordo com Mendes, foram arriscadas, principalmente porque o ex-ministro estava "muito próximo desse movimento político" (bolsonarista). Mendes destacou que Moro teve "sucessivas derrotas" durante o período em que esteve presente no governo Bolsonaro, como a vez em que convidou a cientista política Ilona Szabó de Carvalho para assumir um cargo de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Moro teve que voltar atrás na indicação em razão de críticas feitas por bolsonaristas.