"Organização Criminosa". Assim o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes se referiu aos procuradores que integram a Força-Tarefa da Operação Lava-Jato nesta quarta-feira (7), em conversa que fizemos com ele no programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
O ministro não economizou nas críticas. Cobrou forte uma atuação da corregedoria do Ministério Público Federal. Disse que a força tarefa foi criada para combater crimes e acabou, ela própria, os cometendo. E com "linguagem baixa, baixísima", "linguagem de criminoso", acrescentou, se referindo aos mais recentes diálogos revelados pelo portal Intercept Brasil. Neles, mensagens atribuídas ao procurador Deltan Dallagnol apontam que o procurador teria usado a Rede Sustentabilidade para driblar as limitações da força-tarefa e mover uma ação contra o ministro do Supremo Tribunal Federal.
A fala de Gilmar Mendes é uma das mais incisivas críticas disparadas por um integrante da Suprema Corte aos procuradores desde que começaram a ser revelados trechos de mensagens trocadas por procuradores no episódio que ficou conhecido como "Vaza Jato". Por trás dela, está uma convicção do magistrado de que os procuradores agiram para além de suas competências em uma série de processos relacionados ao esquema de corrupção descoberto na Petrobras.
— Fico a imaginar quantas pessoas foram delatadas por indução desses agentes — acrescentou.
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O ministro, aliás, nunca fez questão de esconder sua avaliação de que houve desrespeito à Constituição na condução dos trabalhos da equipe de Curitiba. E que o próprio Supremo precisa agir no sentido de resguardar o respeito ao processo legal. Em abril de 2017, também em conversa conosco no Timeline, o ministro declarou:
— Nós dissemos isso nos autos: Curitiba passou dos limites.
Ele se referia à decisão da Segunda Turma do STF do dia anterior, quando os ministros votaram por conceder liberdade a João Carlos Genu (ex-assessor do PP) e ao pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A coluna Painel, do jornal Folha de São Paulo, vai além. E diz que a indisposição com os procuradores não é sentimento exclusivo de Mendes. Conforme a publicação, as novas revelações do Vaza Jato fortaleceram o desconforto do Supremo com Deltan Dallagnol. "Se o Conselho Nacional do Ministério Público não o afastar, afirmam integrantes da corte até hoje isentos de citações, alguém fará isso pelo órgão. O apoio aos métodos do chefe da força-tarefa de Curitiba é minguante", diz o texto assinado pela jornalista Daniela Lima.
Pelo aquecer da temperatura, é bom ficar atento às cenas dos próximos capítulos.