Um dia depois de reagir com um "e daí" ao número recorde de mortos pelo coronavírus no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro reuniu 25 deputados do PSL e, em uma tumultuada entrevista na porta do Palácio da Alvorada nesta quarta-feira (29), passou para os governadores e prefeitos a responsabilidade pelo aumento da crise no país.
Bolsonaro reuniu os parlamentares para um café da manhã. Ao sair do Alvorada, trouxe junto parte dos parlamentares e passou, com ajuda deles, a criticar as notícias que relatam sua entrevista na noite anterior. Na terça-feira (28), quando questionado sobre as 5.017 mortes registradas pelo Ministério da Saúde, o chefe do Executivo nacional reagiu dizendo:
— E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre.
— As medidas restritivas são a cargo dos governadores e prefeitos. A imprensa tem que perguntar para o (João) Doria porque tem mais gente perdendo a vida em São Paulo. Perguntar para ele que tomou todas as medidas restritivas que ele achava que devia tomar — disse Bolsonaro nesta quarta-feira em menção ao governador de São Paulo, seu virtual adversário em 2022.
— Não adianta a imprensa querer botar na minha conta estas questões que não cabem a mim. Não adianta a Folha de S.Paulo, O Globo, que fez uma manchete mentirosa, tendenciosa — continuou Bolsonaro.
Indagado pelos jornalistas se não havia dito a frase do "e daí?", Bolsonaro demonstrou impaciência.
— Você não botou o complemento! Você não botou o complemento! — reagiu.
Os jornalistas perguntaram qual seria o complemento.
— A Globo não tem moral. Vocês não têm moral. Você é um mentiroso, a Globo é mentirosa — afirmou.
Os repórteres insistiram na pergunta.
— O complemento é que que eu lamento. Está lá. Falei aqui. Perguntei, tinha pelo menos duas TVs ao vivo. Mesmo ao vivo... A Globo tem que se definir. Eu não vou pagar para vocês falarem a verdade nem bem de mim. Não vou pagar para a Globo escrever a verdade ou falar bem de mim. Perguntem para o Doria a questão de óbitos que estão acontecendo — disse Bolsonaro.
Na entrevista de terça à noite, Bolsonaro disse que "as mortes de hoje, a princípio, essas pessoas foram infectadas há duas semanas. É o que eu digo para vocês: o vírus vai atingir 70% da população, infelizmente é a realidade. Mortes vão haver. Ninguém nunca negou que haveria mortes". Depois de questionar e ser informado de que sua entrevista estava sendo transmitida ao vivo em redes de televisão, Bolsonaro buscou dar uma uma declaração mais amena sobre o assunto.
— Lamento a situação que nós atravessamos com o vírus. Nos solidarizamos com as famílias que perderam seus entes queridos, que a grande parte eram pessoas idosas, mas é a vida. Amanhã vou eu. Logicamente que a gente quer, se um dia morrer, ter uma morte digna, né? E deixar uma boa história para trás — disse o presidente, conforme registrado nas matérias jornalísticas.
Nesta manhã, Bolsonaro escalou vários deputados do PSL para defendê-lo, o que gerou um bate-boca. Apoiadores do presidente xingaram repórteres. Ao fim, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre o número de mortes e, novamente, passou a responsabilidade para os governadores e prefeitos.
— Essa conta tem que ser perguntada para os governadores. Perguntem ao senhor João Doria, ao senhor (Bruno) Covas (prefeito de São Paulo), de o porquê terem tomado medidas tão restritivas e continua morrendo gente. Eles têm que responder. Vocês não vão colocar no meu colo essa conta — disse.
Indagado sobre qual seria a sua responsabilidade, não respondeu e criticou a pergunta.
— A pergunta é tão idiota que eu não vou te responder — afirmou o presidente da República.