Foi como um soco no estômago ouvir o chefe do Executivo da cidade de Manaus narrar a utilização de uma vala comum para enterrar os corpos de vítimas da Covid-19 na tarde desta terça-feira (21), durante o programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha. As imagens já circulavam pelas redes nos últimos dias, mas Arthur Virgílio as confirmou durante a entrevista. Político experiente do PSDB, contou sobre o colapso na rede de saúde na capital do Estado do Amazonas. Disse que a cidade registrou em um único dia 122 mortes, segundo ele, relacionadas ao novo coronavírus.
Aos que insistem em negar a gravidade da doença, não há argumento capaz de fazer frente a um cenário em que os mortos são enfileirados em um mesmo buraco de terra. É preciso mais o quê? Ainda assim, pasme, muitos reverberam a tese de que trata-se de um exagero dos governantes, uma invenção do comunismo ou simplesmente uma conspiração para derrubar o mandatário atual. Há quem cobre: onde estão as mortes? Como se alguém, em sã consciência, desejasse vê-las.
Se for esse o seu caso, ouça o relato. "É caso de absoluta calamidade pública", descreveu.
Urge aqui a necessidade de tratarmos a pandemia com dados científicos e medidas racionais. Equipar as redes de saúde. Abandonar teses negacionistas. O prefeito de Manaus reiterou a importância do isolamento e reconheceu sobre as realidades diversas no Brasil, que podem (e devem) gerar medidas distintas quanto à retomada da normalidade. Reforçou, no entanto, a necessidade de cuidados. De que não se desprezem dados na tentativa de promover uma retomada forçada da economia. "Se o Sul não foi atingido como aqui, não significa que não poderá ser atingido. No meu caso, se abrirmos as ruas, mais pessoas cairão doentes. O caos vai ser ainda maior", destacou.
Ouçamos pois. Para que a história (recente) não se repita como tragédia.