Veio com tudo. E foi assustador. A fúria do clima recaiu sobre o Rio Grande do Sul na noite deste 16 de janeiro de 2024, derrubando árvores, destelhando casas, paralisando cidades, levando ao menos uma vida. Em Porto Alegre, revivemos o pavor da tempestade de 2016. Foi uma madrugada insone e tensa.
Pela janela do prédio, vi os jacarandás da altura do edifício, no bairro Menino Deus, onde moro, sacudindo como se não fossem de madeira. O vento era tão forte que os troncos vergavam. Pareciam feitos de papel, frágeis e instáveis, fazendo lembrar que somos nada diante da força da natureza e dos eventos extremos de um clima em mutação.
Pedras de gelo despencaram sobre a urbe. A chuva vinha de todos os lados. A luz foi-se em minutos (até eu conseguir chegar à redação de GZH, às 7h desta quarta-feira (17), não havia perspectiva de retorno). Ruas e avenidas viraram rios barrentos. Ao lado de casa, uma árvore de quase 10 metros foi arrancada pela raiz e cobriu toda a via.
Algo aconteceu no telhado. A água começou a gotejar no quarto, no corredor, no apartamento dos vizinhos. Baldes, panos. Rápido. Acabou a bateria do celular. Restou o rádio, com as informações atualizadas pela Gaúcha. Menos mal.
Na rua, vizinhos tentavam chegar, alguns com água pela cintura. Outros saíam para ajudar. A solidariedade que vimos em 2016, veja só, parecia estar de volta.
- Está tudo bem?
- Vamos puxar aquele galho?
- Será que posso passar aqui?
- Cuidado, melhor fazer o retorno, a água bate na porta do carro!
Nessas horas, a gente passa a acreditar que a humanidade ainda tem jeito, até que a vida volte ao normal outra vez. Aí, seguimos sem olhar para o lado, sem dar atenção àquela noite insone e assustadora que, um dia, será apenas uma lembrança ruim.